sexta-feira, 6 de abril de 2012

HÓRUS (Cerca de 10.000 a.C.)

A Evolução Espiritual da Humanidade
(O Influxo Divino e A Pluralidade das Existências)
(A origem da Raça Ariana)



HÓRUS
(Cerca de 10.000 a.C.)




Entre mitos e realidades segue-se a história de HÓRUS. Contudo, não podemos desprezar os mitos, pois que encerram grandes ensinamentos.
“Deus, a natureza e o homem são uma UNIDADE, movidos pelo AMOR”
Por Martha Cibelli


Horus nasceu da virgem Ísis-Meri; o seu nascimento foi acompanhado por uma estrela a Este, que por sua vez, foi seguida por três reis em busca do Salvador recém-nascido. Ele aos 12 anos era uma criança prodígio, e, aos 30 anos foi batizado por uma figura conhecida por ANUP e que assim começou o seu reinado. Ele, tal como Jesus, o Cristo, teve doze discípulos e viajava com eles para curar os enfermos e etc.

Observem quantos deuses tem a mesma estrutura mitológica.

Hórus, mítico soberano do Egito, desdobra as suas divinas asas de falcão sob a cabeça dos faraós, não somente meros protegidos, mas, na realidade, a própria encarnação do deus do céu. Pois não era ele o deus protetor da monarquia faraônica, do Egito unido sob um só faraó, regente do Alto e do Baixo Egito? Com efeito, desde o florescer da época história, que o faraó proclamava que neste deus refulgia o seu ka (poder vital), na ânsia de legitimar a sua soberania, não sendo pois inusitado que, a cerca de 3000 a. C., o primeiro dos cinco nomes da titularia real fosse exatamente “o nome de Hórus”. No panteão egípcio, diversas são as deidades que se manifestam sob a forma de um falcão. Hórus, detentor de uma personalidade complexa e intrincada, surge como a mais célebre de todas elas. Mas quem era este deus, em cujas asas se reinventava o poder criador dos faraós? Antes de mais, Hórus representa um deus celeste, regente dos céus e dos astros neles semeados, cuja identidade é produto de uma longa evolução, no decorrer da qual Hórus assimila as personalidades de múltiplas divindades. 
 
 
 
 
Hórus completava a Trindade, onde o pai era Osíris, a mãe era Ísis e ele era o filho.
 
 
 
Originalmente, Hórus era um deus local de Sam-Behet (Tell el- Balahun) no Delta, Baixo Egito. O seu nome, Hor, pode traduzir-se como “O Elevado”, “O Afastado”, ou “O Longínquo”. Todavia, o decorrer dos anos facultou a extensão do seu culto, pelo que num ápice o deus tornou-se patrono de diversas províncias do Alto e do Baixo Egito, acabando mesmo por usurpar a identidade e o poder das deidades locais, como, por exemplo, Sopedu (em zonas orientais do Delta) e Khentekthai (no Delta Central). Finalmente, integra a cosmogonia de Heliópolis enquanto filho de Ísis e Osíris, englobando díspares divindades cuja ligação remonta a este parentesco. O Hórus do mito osírico surge como um homem com cabeça de falcão que, à semelhança de seu pai, ostenta a coroa do Alto e do Baixo Egito. É igualmente como membro desta tríade que Hórus saboreia o expoente máximo da sua popularidade, sendo venerado em todos os locais onde se prestava culto aos seus pais. A Lenda de Osíris revela-nos que, após a celestial concepção de Hórus, benção da magia que facultou a Ísis o apanágio de fundir-se a seu marido defunto em núpcias divinas, a deusa, receando represálias por parte de Seth, evoca a proteção de Ré-Atum, na esperança de salvaguardar a vida que florescia dentro de si.
  



Receptivo às preces de Ísis, o deus solar velou por ela até ao tão esperado nascimento. Quando este sucedeu, a voz de Hórus inebriou então os céus:
 
 
 
Eu sou Hórus, o grande falcão. O meu lugar está longe do de Seth,
inimigo de meu pai Osíris. Atingi os caminhos da eternidade e da luz.
Levanto voo graças ao meu impulso. Nenhum deus pode realizar aquilo que eu realizei. Em breve partirei em guerra contra o inimigo de meu pai Osíris,
calcá-lo-ei sob as minhas sandálias com o nome de Furioso...
Porque eu sou Hórus, cujo lugar está longe dos deuses e dos homens.
Sou Hórus, o filho de Ísis.”
  


HORUS e o VENENO DE ESCORPIÃO

Temendo que Seth abraçasse a resolução de atentar contra a vida de seu filho recém- nascido, Ísis refugiou-se então na ilha flutuante de Khemis, nos pântanos perto de Buto, circunstância que concedeu a Hórus o epíteto de Hor- heri- uadj, ou seja, “Hórus que está sobre a sua planta de papiro”. Embora a natureza inóspita desta região lhe oferecesse a tão desejada segurança, visto que Seth jamais se aventuraria por uma região tão desértica, a mesma comprometia, concomitantemente, a sua subsistência, dada a flagrante escassez de alimentos característica daquele local. Para assegurar a sua sobrevivência e a de seu filho, Ísis vê-se obrigada a mendigar, pelo que, todas as madrugadas, oculta Hórus entre os papiros e erra pelos campos, disfarçada de mendiga, na ânsia de obter o tão necessário alimento. Uma noite, ao regressar para junto de Hórus, depara-se com um quadro verdadeiramente aterrador: o seu filho jazia, inanimado, no local onde ela o abandonara. Desesperada, Ísis procura restituir-lhe o sopro da vida, porém a criança encontrava-se demasiadamente débil para alimentar-se com o leite materno. Sem hesitar, a deusa suplica o auxílio dos aldeões, que todavia se relevam impotentes para a socorrer.




Quando o sofrimento já quase a fazia transpor o limiar da loucura, Ísis vislumbrou diante de si uma mulher popular pelos seus dons de magia, que prontamente examinou o seu filho, proclamando Seth alheio ao mal que o atormentava. Na realidade, Hórus (ou Harpócrates, Horpakhered- “Hórus menino/ criança”) havia sido simplesmente vítima da picada de um escorpião ou de uma serpente. Angustiada, Ísis verificou então a veracidade das suas palavras, decidindo-se, de imediato, e evocar as deusas Néftis e Selkis (a deusa-escorpião), que prontamente ocorreram ao local da tragédia, aconselhando-a a rogar a Ré (Rá) que suspendesse o seu percurso usual até que Hórus convalescesse integralmente. Compadecido com as suplicas de uma mãe, o deus solar ordenou assim a Toth que salvasse a criança. Quando finalmente se viu diante de Hórus e Ísis, Toth declarou então:


Nada temas, Ísis! Venho até ti, armado do sopro vital que curará a criança.
Coragem, Hórus! Aquele que habita o disco solar protege-te e a proteção
de que gozas é eterna. Veneno, ordeno-te que saias! Ré, o deus supremo,
far-te-á desaparecer. A sua barca deteve-se e só prosseguirá o seu curso
quando o doente estiver curado. Os poços secarão, as colheitas morrerão,
os homens ficarão privados de pão enquanto Hórus não tiver recuperado
as suas forças para ventura da sua mãe Ísis. Coragem, Hórus.
O veneno está morto, ei-lo vencido.”

 


Após haver banido, com a sua magia divina, o letal veneno que estava prestes a oferecer Hórus à morte, o excelso feiticeiro solicitou então aos habitantes de Khemis que velassem pela criança, sempre que a sua mãe tivesse necessidade de se ausentar. Muitos outros sortilégios se abateram sobre Hórus no decorrer da sua infância (males intestinais, febres inexplicáveis, mutilações), apenas para serem vencidos logo de seguida pelo poder da magia detida pelas HÓRUS sublimes deidades do panteão egípcio. No limiar da maturidade, Hórus, protegido até então por sua mãe, Ísis, tomou a resolução de vingar o assassinato de seu pai, reivindicando o seu legítimo direito ao trono do Egito, usurpado por Seth. Ao convocar o tribunal dos deuses, presidido por Rá, Hórus afirmou o seu desejo de que seu tio deixasse, definitivamente, a regência do país, encontrando, ao ultimar os seus argumentos, o apoio de Toth, deus da sabedoria, e de Shu, deus do ar. Todavia, Ra contestou-os, veementemente, alegando que a força devastadora de Seth, talvez lhe concedesse melhores aptidões para reinar, uma vez que somente ele fora capaz de dominar o caos, sob a forma da serpente Apópis, que invadia, durante a noite, a barca do deus- sol, com o fito de extinguir, para toda a eternidade, a luz do dia. Ultimada uma querela verbal, que cada vez mais os apartava de um consenso, iniciou-se então uma prolixa e feroz disputa pelo poder, que opôs em confrontos selváticos, Hórus a seu tio. Após um infrutífero rol de encontros quase soçobrados na barbárie, Seth sugeriu que ele próprio e o seu adversário tomassem a forma de hipopótamos, com o fito de verificar qual dos dois resistiria mais tempo, mantendo-se submergidos dentro de água. 



Escoado algum tempo, Ísis foi incapaz de refrear a sua apreensão e criou um arpão, que lançou no local, onde ambos haviam desaparecido. Porém, ao golpear Seth, este apelou aos laços de fraternidade que os uniam, coagindo Ísis a sará-lo, logo em seguida. A sua intervenção enfureceu Hórus, que emergiu das águas, a fim de decapitar a sua mãe e, ato contíguo, levá-la consigo para as montanhas do deserto. Ao tomar conhecimento de tão hediondo ato, Rá, irado, vociferou que Hórus deveria ser encontrado e punido severamente. Prontamente, Seth voluntariou-se para capturá-lo. As suas buscas foram rapidamente coroadas de êxito, uma vez que este num ápice se deparou com Hórus, que jazia, adormecido, junto a um oásis. Dominado pelo seu temperamento cruel, Seth arrancou ambos os olhos de Hórus, para enterrá-los algures, desconhecendo que estes floresceriam em botões de lótus. Após tão ignóbil crime, Seth reuniu-se a Rá, declarando não ter sido bem sucedido na sua procura, pelo que Hórus foi então considerado morto. Porém, a deusa Hátor encontrou o jovem deus, sarando-lhe, miraculosamente, os olhos, ao friccioná-los com o leite de uma gazela. Outra versão, pinta-nos um novo quadro, em que Seth furta apenas o olho esquerdo de Hórus, representante da lua. Contudo, nessa narrativa o deus-falcão, possuidor, em seus olhos, do Sol e da lua, é igualmente curado.



 
Em ambas as histórias, o Olho de Hórus, sempre representado no singular, torna-se mais poderoso, no limiar da perfeição, devido ao processo curativo, ao qual foi sujeito. Por esta razão, o Olho de Hórus ou Olho de Wadjet surge na mitologia egípcia como um símbolo da vitória do bem contra o mal, que tomou a forma de um amuleto protetor. A crença egípcia refere igualmente que, em memória desta disputa feroz, a lua surge, constantemente, fragmentada, tal como se encontrava, antes que Hórus fosse sarado. Determinadas versões desta lenda debruçam-se sobre outro episódio de tão desnorteante conflito, em que Seth conjura novamente contra a integridade física de Hórus, através de um aparentemente inocente convite para o visitar em sua morada. A narrativa revela que, culminado o jantar, Seth procura desonrar Hórus, que, embora precavido, é incapaz de impedir que um gota de esperma do seu rival tombe em suas mãos. Desesperado, o deus vai então ao encontro de sua mãe, a fim de suplicar-lhe que o socorra. Partilhando do horror que inundava Hórus, Ísis decepou as mãos do filho, para arremessá-las de seguida à água, onde graças à magia suprema da deus, elas desaparecem no lodo. Todavia, esta situação torna-se insustentável para Hórus, que toma então a resolução de recorrer ao auxílio do Senhor Universal, cuja extrema bonomia o leva a compreender o sofrimento do deus-falcão e, por conseguinte, a ordenar ao deus-crocodilo Sobek, que resgatasse as mãos perdidas. Embora tal diligência haja sido coroada de êxito, Hórus depara-se com mais um imprevisto: as suas mãos tinham sido abençoadas por uma curiosa autonomia, encarnando dois dos filhos do deus- falcão.

Novamente evocado, Sobek é incumbido da tarefa de capturar as mãos que teimavam em desaparecer e levá-las até junto do Senhor Universal, que, para evitar o caos de mais uma querela, toma a resolução de duplicá-las. O primeiro par é oferecido à cidade de Nekhen, sob a forma de uma relíquia, enquanto que o segundo é restituído a Hórus. Este prolixo e verdadeiramente selvático conflito foi enfim solucionado quando Toth persuadiu Rá a dirigir uma encomiástica missiva a Osíris, entregando-lhe um incontestável e completo título de realeza, que o obrigou a deixar o seu reino e confrontar o seu assassino. Assim, os dois deuses soberanos evocaram os seus poderes rivais e lançaram-se numa disputa ardente pelo trono do Egito. Após um reencontro infrutífero, Ra propôs então que ambos revelassem aquilo que tinham para oferecer à terra, de forma a que os deuses pudessem avaliar as suas aptidões para governar. Sem hesitar, Osíris alimentou os deuses com trigo e cevada, enquanto que Seth limitou-se a executar uma demonstração de força. Quando conquistou o apoio de Ra, Osíris persuadiu então os restantes deuses dos poderes inerentes à sua posição, ao recordar que todos percorriam o horizonte ocidental, alcançando o seu reino, no culminar dos seus caminhos. Deste modo, os deuses admitiram que, com efeito, deveria ser Hórus a ocupar o trono do Egito, como herdeiro do seu pai. Por conseguinte, e volvidos cerca de oito anos de altercações e reencontros ferozes, foi concedida finalmente ao deus- falcão a tão cobiçada herança, o que lhe valeu o título de Hor-paneb-taui ou Horsamtaui/Horsomtus, ou seja, “Hórus, senhor das Duas Terras”.

 
 O deus Falcão

Como compensação, Rá concedeu a Seth um lugar no céu, onde este poderia desfrutar da sua posição de deus das tempestades e trovões, que o permitia atormentar os demais. Este mito parece sintetizar e representar os antagonismos políticos vividos na era pré-dinástica, surgindo Hórus como deidade tutelar do Baixo Egito e Seth, seu oponente, como protetor do Alto Egito, numa clara disputa pela supremacia política no território egípcio. Este reencontro possui igualmente uma certa analogia com o paradoxo suscitado pelo combate das trevas com a luz, do dia com a noite, em suma, de todas as entidades antagônicas que encarnam a típica luta do bem contra o mal. A mitologia referente a este deus difere consoante as regiões e períodos de tempo. Porém, regra geral, Hórus surge como esposo de Háthor, deusa do amor, que lhe ofereceu dois filhos: Ihi, deus da música e Horsamtui, “Unificador das Duas Terras”. Todavia, e tal como referido anteriormente, Hórus foi imortalizado através de díspares representações, surgindo por vezes sob uma forma solar, enquanto filho de Atum-Ré ou Geb e Nut ou apresentado pela lenda osírica, como fruto dos amores entre Osíris e Ísis, abraçando assim diversas correntes mitológicas, que se fundem, renovam e completam em sua identidade. É dos muitos vetores em que o culto solar e o culto osírico, os mais relevantes do Antigo Egito, se complementam num oásis de Sol, pátria de lendas de luz, em cujas águas d’ouro voga toda a magia de uma das mais enigmáticas civilizações da Antiguidade.

 

Detalhes e vocabulário egípcio:

Culto de Hórus centralizava-se na cidade de Edfu, onde particularmente no período ptolomaico saboreou uma estrondosa popularidade;

Culto do deus falcão dispersou-se em inúmeros sub-cultos, o que criou lendas controversas e inúmeras versões do popular deus, como a denominada Rá-Harakhty;

As estelas (pedras com imagens) de Hórus consideravam-se curativas de mordeduras de serpentes e picadas de escorpião, comuns nestas regiões, dado representarem o deus na sua infância vencendo os crocodilos e os escorpiões e estrangulando as serpentes. Sorver a água que qualquer devotado lhe houvesse deixado sobre a cabeça, significava a obtenção da proteção que Ísis proporcionava ao filho. Nestas estelas surgia, frequentemente, o deus Bes, que deita a língua de fora aos maus espíritos. Os feitiços cobrem os lados externos das estelas. Encontramos nelas uma poderosa proteção, como salienta a famigerada Estela de Mettenich: “Sobe veneno, vem e cai por terra. Hórus fala-te, aniquila-te, esmaga-te; tu não te levantas, tu cais, tu és fraco, tu não és forte; tu és cego, tu não vês; a tua cabeça cai para baixo e não se levanta mais, pois eu sou Hórus, o grande Mágico.”;

Out- embalsamadores;

Vabet- lugar de purificação.


Verónica Freitas





HORUS MENINO
 




ACREDITA-SE QUE A LENDA do deus Osíris tenha sido baseada em eventos históricos verdadeiros ocorridos na região do delta nilótico em época muito primitiva. Com um enfoque bem mais interessante do que o das teologias de criação do Universo surgidas em Heliópolis e outras cidades, ela fez grande sucesso ao ser introduzida no conjunto das tradições religiosas reais no decorrer do Império Antigo (c. 2575 a 2134 a.C). Nos textos egípcios essa história nunca aparece narrada do início ao fim, mas o padrão das referências aos incidentes que dela fazem parte confirmam a sequência geral de eventos como relatados pelo autor grego Plutarco (c. 50 a 125 d.C.). Na ilustração ao lado a divindade está representada com atributos de faraó numa estatueta em madeira pintada, de cerca de 1300 a.C., pertencente ao Museu Britânico de Londres.

DE ACORDO COM A NARRATIVA, Osíris foi um soberano justo e benemérito que reinou sobre o Egito a partir do delta. Seu reinado foi interrompido por seu irmão, Seth, que o matou por ciúmes. Plutarco relata que Seth confeccionou uma rica arca com as medidas do corpo de Osíris, cuja estatura passava dos cinco metros, e convidou-o para um banquete no qual estaria um grupo de 72 conspiradores propensos a matá-lo. A título de gracejo, Seth introduziu a arca na sala do banquete e afirmou que a daria de presente a quem melhor se ajustasse a ela. Todos os convidados nela entraram, deitando-se, mas nenhum deles a preenchia integralmente. Finalmente entrou Osíris, estendendo-se no fundo, exatamente do seu tamanho. A tampa foi pregada imediatamente e a arca atirada ao Nilo, de onde foi dar ao mar.





A LENDA PASSA ENTÃO A DESCREVER as andanças de Ísis que, desolada, saiu em busca do corpo do marido encontrando-o, finalmente, em Biblos, para onde o oceano o havia levado. Após uma série de peripécias, retornou ao país natal trazendo consigo a arca com o corpo. No caminho abriu a arca e, empregando todo o seu mágico poder, tentou ressuscitar o marido. Tornou-se um falcão e, agitando as asas sobre ele, tentou retituir-lhe o sopro da vida. Embora não tendo conseguido, milagrosamente ficou fecundada. A deusa refugiou-se nos arredores de Buto, mas o malvado Seth não demorou em descobrir a arca. Roubou o corpo de Osíris e dividiu-o em 14 pedaços que foram espalhados pelo Egito. A paciente Ísis, com a ajuda de sua irmã Néftis, procurou e encontrou todos os pedaços, com exceção do falo, engolido pelo peixe Oxyrinco. O corpo foi reconstituído por artes mágicas de Ísis e o deus Anúbis o embalsamou, tendo surgido assim a primeira múmia. Findo o sepultamento, Ísis voltou a refugiar-se nos pantanais de Buto para proteger-se, e ao filho que esperava, das maldades de Seth.




O FILHO DE ÍSIS NASCEU, informa Plutarco, antes do devido tempo e era uma criança de pernas débeis, ou seja, era um bebê prematuro, e recebeu o nome de Harpócrates. De fato, em Heliópolis o deus Hórus recebia o nome de Heru-pa-khret, palavra egípcia que significa Hórus, o menino, e que os gregos traduziram para Harpócrates. Tratava-se de uma forma tardia de Hórus no seu aspecto de ser o filho de Ísis e Osíris quando criança e fazia parte da enéade daquela cidade, tendo sido cultuado em muitos santuários do país. Nesse caso é representado por uma criança nua, usando a coroa dupla do faraó, ou um penteado infantil com tranças, e chupando o dedo, como vemos nessa foto (acima) de uma estatueta que pertence ao Museu Ashmolean, de Oxford. Os gregos o imaginaram com o dedo sobre a boca, isto é, ante os lábios, o que fazia dele uma divindade da discrição e do silêncio. Nesse caso simbolizava o estado débil do pensamento do homem o qual, ante os deuses, nunca passa de uma criança. O melhor que o ser humano pode fazer é adorar as divindades em silêncio.







HARPÓCRATES


HARPÓCRATES MUITAS VEZES É retratado sendo amamentado por Ísis ou por Hátor. Ambas amamentaram-no e criaram-no justamente para que pudesse vingar-se de seu tio Seth, o rei mau do Alto Egito que matara seu pai Osíris. A estatueta em bronze que vemos acima, por exemplo, com 18,4 por 4,5 cm, que deve ter sido produzida entre 712 e 30 a.C. e que pertence ao museu da Emory University, de Atlanta, nos Estados Unidos, mostra o deus sendo amamentado por sua mãe. Também podia ser identificado com o deus-Sol que renascia a cada manhã, dissipando as trevas, sendo, então, mostrado a emergir de uma flor de lótus que flutua sobre as águas celestiais. Ele simbolizava o incessante renovar da vida, a eterna juventude, tudo aquilo que perpetuamente renasce devido às alternâncias da vida e da morte.

NO PERÍODO TARDIO (c. 712 a 332 a.C.), essa divindade tornou-se bastante popular e aparecia representada como uma criança nua em pé sobre um crocodilo, tendo nas mãos cobras e escorpiões. Ficou, então, conhecido como um deus com poder de curar as pessoas que tivessem sido mordidas por cobras ou picadas por escorpiões. Ainda podia personificar, segundo alguns autores, os germens que começam a brotar, já que seu pai era uma divindade agrária, ou o Sol debilitado do inverno. Entretanto, Plutarco afirma: Não se deve imaginar que Harpócrates seja um deus imperfeito em estado de infância, nem grão que germina. Assenta melhor considerá-lo como o que retifica e corrige as opiniões irreflexivas, imperfeitas e truncadas no concernente aos deuses, e tão difundidas entre os homens. Por isso, e como símbolo de discrição e silêncio, esse deus aplica o dedo sobre os lábios.


Em Heliópolis essa divindade era adorada também sob outra forma. Recebia o nome de Heru-pa-khret, palavra egípcia que significa Hórus, o menino, e que os gregos traduziram para Harpócrates, identificando-o com uma divindade do silêncio. Tratava-se de uma forma tardia de Hórus no seu aspecto de ser o filho de Ísis e Osíris quando criança e fazia parte da enéade daquela cidade, tendo sido cultuado em muitos santuários do país. Nesse caso é representado por uma criança nua, usando a coroa dupla do faraó ou um penteado infantil com tranças e chupando o dedo. Muitas vezes é retratado sendo amamentado por Ísis ou por Hátor. Também podia ser identificado com o deus-Sol que renascia a cada manhã, sendo, então, mostrado a emergir de uma flor de lótus que flutua sobre as águas celestiais.

Finalmente, sob o nome de Harsiese era encarado especificamente como filho de Ísis, o vingador de Osíris e protótipo do filho obediente. Nesse caso era representado como um homem com cabeça de falcão, usando a coroa dupla dos faraós.
 
 
 
 



HÓRUS SOLAR
 

Em Heliópolis, como Harakhti — Hórus no horizonte —, era a manifestação do Sol ao surgir e se pôr. Muitas vezes identificado a Rá, quando passava a se chamar Rá-Harakhti. Representado como um homem com cabeça de falcão ou simplesmente como um falcão.





 
HÓRUS DE EDFU



Como Hórus de Edfu, era adorado nessa cidade, onde tinha um importante centro de culto já que o local era tido como o palco da vitória dessa divindade sobre Seth. Aparecia como um homem com cabeça de falcão ou como um falcão, e também representado por um disco solar provido de asas de falcão, figura que era talhada nas portas de muitos templos. Ao lado, um falcão colossal de granito cinza da entrada da sala hipóstila do templo de Edfu.



 
HÓRUS, O ANTIGO

  

Em Letópolis era cultuado como Haroéris — Hórus, o antigo, o velho ou o primogênito — a divindade que lutou contra Seth, o deus do mal. Representado como um falcão, ou como um homem com cabeça de falcão e o disco solar sobre ela, era o protetor do rei por excelência.

EM TEMPOS MUITO REMOTOS os egípcios cultuaram um deus chamado Hórus, simbolizado pelo falcão que parece ter sido a primeira coisa viva que eles adoraram, ao qual deram o epíteto de Senhor da luz e do céu. Seu olho direito é o Sol e o esquerdo, a Lua. Essa divindade era o deus-Sol, da mesma forma que Rá e, em épocas mais recentes da história egípcia, acabou sendo confundido com Hórus, filho de Ísis e Osíris.

ESPECIALMENTE ADORADO em Letópolis, de onde era originário, ali recebia o nome de Horjenti Irti, significando Hórus que governa com os dois olhos, e também era conhecido como o Senhor do Sol e da Lua. Outros de seus nomes, dependendo da região do culto, foram: Hor Merti Hórus dos dois olhos, sendo então representado segurando nas mãos os olhos Uedjat ou o Uraeus; Mekhenti-en-irty.  Aquele em cuja face não há olhos, nome que lhe era atribuído nas noites sem luar, ou seja, quando tanto o Sol quanto a Lua estavam ocultos, sendo nesse caso considerado o patrono dos cegos, e Hor Nubti, ou seja, Hórus, vencedor de Seth, entre outros. Sendo um deus guerreiro por excelência, munido de uma espada, podia ser especialmente perigoso para os que o rodeavam quando se encontrava desprovido da visão e durante uma batalha em particular ele não apenas decepava a cabeça de seus inimigos, mas também a de outras divindades que lutavam a seu lado, mergulhando assim o mundo em súbita confusão, que era desfeita apenas quando sua visão voltava. Seu nome mais usual, entretanto, era Hor Ur, que os gregos traduziram para Haroéris e que significa Hórus, o Antigo, Hórus, o Velho, ou Hórus, o Primogênito.

ESSA DIVINDADE ERA REPRESENTADA POR UM FALCÃO ou por um homem com cabeça de falcão e o disco solar sobre ela. Às vezes aparece usando a coroa branca do Alto Egito. É ele o pai de Qebehsenuf, Duamutef, Hapi e Imset, as quatro divindades que protegiam as vísceras dos mortos acondicionadas nos vasos canopos. Considerado como o protetor do Alto Egito e do faraó por excelência, participava da cerimônia de coroação do rei e da festa de renovação do vigor faraônico.

SEGUNDO O HISTORIADOR GREGO PLUTARCO (c. 50 a 125 d.C.), a lenda egípcia conta que Nut, deusa do céu, teve uniões secretas com Geb, o deus da terra. O deus-Sol, ou seja, Rá ou o olho diurno do rosto celeste, descobrindo o fato, pronunciou esta maldição contra ela: Oxalá não possa dar à luz nem durante o curso das marés nem durante o do ano. Porém o deus Thoth, enamorado da deusa da qual havia também obtido favores, jogou dados com a Lua, ou seja, o olho noturno do rosto celeste, e arrebatou-lhe uma septuagésima segunda parte de cada um de seus dias de luz. Com a soma de todas aquelas septuagésimas segundas partes formou cinco dias, que acrescentou aos restantes 360. De fato, 360 dividido por 72 dá cinco e esses cinco dias adicionados aos 360 formam o ano de 365 dias. Os egípcios batizaram esses cinco dias de epagômenos, que significa adicionais, e durante tal período celebravam o aniversário do nascimento dos deuses.

PLUTARCO CONTINUA NARRANDO que no primeiro daqueles cinco dias nasceu o primogênito dos filhos de Geb e Nut, Osíris, e que no momento de vir à luz deixou-se ouvir uma voz que disse: o senhor de todas as coisas aparece banhado pela luz. No segundo dia nasceu Haroéris; no terceiro dia veio ao mundo o deus Seth, não no seu devido tempo nem pelo caminho ordinário, senão lançando-se através do flanco materno, que abriu e rasgou dando-lhe um terrível golpe; no quarto dia foi Ísis que nasceu entre as marismas e no último dia nasceu Néftis. Antes mesmo de nascerem, Ísis e Osíris, enamorados um do outro, uniram-se dentro do ventre de Nut e dessa união nasceu Haroéris. Assim, esse deus seria filho de Ísis, nascido dentro do ventre de Nut a qual, por seu turno, deu-lhe à luz pela segunda vez. Desta maneira, Haroéris é filho de Nut e, portanto, irmão de Ísis e Osíris, ao mesmo tempo em que é filho de Ísis e Osíris. Em outra concepção teológica, Haroéris ocupa a posição de filho ou de esposo da deusa Hátor, a grande deusa do céu.



HÓRUS, FILHO DE OSÍRIS




O DEUS QUE recebia o nome de Harsiese era encarado específicamente como o filho da deusa Ísis. Sua designação na língua egípcia era Horu-sa-Aset, que significa exatamente Hórus, Filho de Ísis. Às vezes também era denominado Hórus, o Jovem, para distingui-lo de Hórus, o Antigo.

HARSIESE ERA O ADULTO no qual se transformara a criança que havia sido dada à luz por Ísis após a morte de Osíris. Como um herdeiro real que chega para reclamar a usurpação do trono, ele vingou a morte de seu pai derrotando o deus Seth e tornou-se o deus da ordem e da justiça, em contraposição ao seu oponente que representava o caos. Assim sendo, todo faraó era uma encarnação dessa divindade, o Hórus na terra, o soberano do Alto e do Baixo Egito. Essa divindade era representada na forma de um homem com cabeça de falcão, usando a coroa dupla do faraó, como vemos na figura acima. Ela mostra uma parede do segundo pilone do templo de Isis na Ilha de Philae, na qual aparecem as típicas imagens dos deuses Ísis e Hórus.

QUANDO ESSA DIVINDADE NASCEU, sua mãe invocou sobre ela a ajuda de todos os deuses, ensinou-lhe a magia e o respeito à memória do pai. Hórus cresceu e, diziam os egípcios, como o Sol nascente, seu olho direito era o Sol, o esquerdo a Lua e ele próprio era um grande falcão que cortava os céus. Na passagem 148 do Texto dos Sarcófagos, ele mesmo se apresenta para uma plêiade de deuses:

Sou Hórus, o grande Falcão sobre os muros daquele cujo nome é oculto. Meu vôo atingiu o horizonte. Passei pelos deuses de Nut. Fui mais longe que os deuses de antanho. Mesmo o pássaro mais velho não poderia igualar o meu primeiro vôo. Removi meu lugar para além dos poderes de Seth, o adversário de meu pai Osíris. Nenhum outro deus poderia fazer o que fiz. Trouxe os caminhos da eternidade para o crepúsculo da manhã. Sou único em meu vôo. Minha fúria está voltada contra o inimigo de meu pai Osíris e colocá-lo-ei sob meus pés sob meu nome de "Manto Vermelho". Nesse ponto alguns dos deuses devem ter protestado e Hórus rebate: O hálito chamejante de vossas bocas não me causará mal. O que poderíeis dizer contra mim não me afetaria, pois sou o Hórus, cujo domínio se estende muito além de deuses ou homens, e também sou Hórus, filho de Ísis.


 Osiris


QUANDO O DEUS FICOU ADULTO, Osíris voltou à terra para fazer dele um soldado. Hórus reuniu os seguidores fiéis de seu pai e partiu em busca de Seth para vingar a morte de Osíris. A ferrenha batalha durou três dias e três noites; resume o escritor italiano Federico Mella. Seth e os seus fiéis transformaram-se nos mais terríveis e estranhos animais para fugir á derrota. Hórus mutilou Seth, mas este se transformou num grande porco preto e devorou o olho esquerdo de Hórus. Assim a Lua parou de iluminar e a humanidade ficou atônita. No fim, Seth estava prestes a sucumbir, quando Ísis interveio suplicando ao filho que desse fim ao massacre, pois afinal Seth era seu irmão e marido de sua irmã predileta, Néftis. Num ímpeto de ódio, Hórus decepou a cabeça da mãe. Thoth curou-a logo, colocando em lugar da sua, uma cabeça de vaca. A batalha recomeçou e durou indefinidamente, sem vencedores e sem vencidos. Thoth, o qual curou Seth, intrometeu-se autoritariamente, mas impôs-lhe que restituísse o olho de Hórus. Então a Lua voltou a brilhar. Vieram então os deuses e levaram a questão ao julgamento de um Tribunal Divino. Foi um processo que durou 80 anos. Seth acusou Hórus de não ser filho de Osíris, tendo nascido depois da morte do citado pai. Hórus refutou da acusação, tachando Seth de má fé; enfim, o Divino Tribunal sentenciou que Hórus ficaria com o reino do Baixo Egito e Seth com o do Alto Egito. Segundo Maneton, historiador que escreveu no século III a.C., tudo isso teria ocorrido 13.500 anos antes do primeiro faraó da primeira dinastia egípcia.



E mais...



Bibliografia:

O Livro dos Mortos, Hemus, Editora LTDA SP.
A Religião Egípcia, E. A Wallis Budge, Cultrix, SP.
Egypt's First Pharaohs, National Geographic, April 2005, pgs 106 a 121.
“Invocação aos deuses – explorando o poder dos arquétipos masculinos” Kala Trobe – tradução: Ana Gláucia Ceciliato
 


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