sábado, 27 de outubro de 2012

Buda (Cerca de 500 a.C.)




Atenção gente, eu diria (estou estudando incessantemente a Lei do Tempo) que há uma maneira de sairmos da Roda de Samsara.
Vejam num blog que estou desenvolvendo:
https://descubraseuselo.blogspot.com
Gratidão.
Martha Cibelli



A Evolução Espiritual da Humanidade
(O Influxo Divino e A Pluralidade das Existências)


BUDDHA
(Cerca de 556 a.C. ou Cerca de 470 a.C.)


“A ignorância está perto da maldade”
Buddha


“Projetistas fazem canais,
arqueiros atiram flechas,
artífices modelam a madeira e o barro,
o homem sábio modela-se a si mesmo”.
Buddha


Bem, particularmente, considero o budismo a melhor religião, na medida em que ensina o homem a sublimar o ego, ou seja, é onde o conhecimento e a inteligência predominam, é uma transformação interior, diferente das demais que prometem "salvação externa".
Buddha, nos ensina que tudo está em constante transformação, tudo muda o tempo todo, tudo é impermanente, a partir daí, não existe verdade fechada, tudo são possibilidades. É a suprema filosofia.
Também nos ensina o desapego, fala sobre a reencarnação e principalmente, de vários mundos. A bondade e compaixão por todos os seres, de todos os reinos (Mineral, vegetal, animal e hominal).
Por Martha Cibelli





Siddhartta Gautama, o Buddha (Iluminado), nasceu no mês de Wesak (por volta de Maio), num período de Lua Cheia, possivelmente a 623 anos a.C., entre o séc. VI e IV a.C. (segundo a tradição por volta do ano 566 a. C.), no Jardim de Lumbini, em Kapilavastu, no sopé do Himalaia, norte ou nordeste da Índia, atual Nepal. Siddhartha era seu nome real e Gautama seu nome de família. De linhagem nobre, nasceu numa família real Okkaka, do clã Xáquia (Sakyas ou çakyas). Filho do rei Suddhodana e da rainha Maya, que faleceu logo após seu nascimento e foi substituída por sua irmã Mahapradjapati. Seu povo era a tribo dos Sakyas, tribo ariana de Kshatryias ou de casta guerreira. A capital do reino Sakya era Kapilavastu, às margens do rio Rohini, aos pés dos Himalayas nepaleses.

Logo depois de nascido, Sidharta foi levado a um templo para ser apresentado aos sacerdotes, quando um velho sábio eremita, chamado Ansita, que havia se retirado a uma vida de meditação longe da cidade, aparece, toma o menino nas mãos e profetiza:


“Este menino será grande entre os grandes.
Será um poderoso rei ou um mestre espiritual
que ajudará a humanidade a se libertar de seus sofrimentos”.


A vida de Siddhartha foi rodeada de todo luxo e conforto. Conta-se que o rei mandara construir três palácios, um para a estação quente, outro para a estação chuvosa e um para o inverno. O velho rei, Suddhodana, tentava por todos os meios, esconder e proteger seu filho de todo e qualquer sofrimento, tentando evitar que a profecia de Ansita se cumprisse, pois o rei desejava que o príncipe também se tornasse um rei guerreiro e levasse a glória do clã dos Sakyas para além das fronteiras. Assim, o rei fez o que pôde para impedir que o coração sensível de Siddhartha fosse tocado pelas tristes realidades do mundo. Siddhartha era um prisioneiro dentro de seus palácios, jardins e jogos eternos. Somente jovens dele se aproximavam. Quando desejava ir à cidade de Kapilavastu, o rei mandava pintar as casas e embelezar as ruas por onde o séquito iria passar. Ordenava ao povo que usasse roupas novas e afastava os velhos e doentes.

O pai, temendo que pudesse ser abalado por desagradáveis situações, manteve-o na área do palácio. Todavia, aos 29 anos, certa vez, iludindo a vigilância real, sai disfarçado de mercador com seu fiel escudeiro Channa, para ir até a cidade. É clássica a descrição deste passeio e o choque que este lhe trouxe. No seu trajeto, encontra um velho alquebrado, um doente cheio de pústulas, um cadáver e um sanyasin (asceta errante) de hábito amarelo. Gauthama viu o sofrimento humano, pela primeira vez, sob a forma de um velho, um doente e um morto. É tomado do mais profundo sentimento de Compaixão pelos seres e de uma grande inquietação para descobrir uma resposta às vicissitudes da vida. Retorna ao castelo transtornado, e nenhuma distração ou conforto material consegue tirar-lhe o desejo cada vez mais ardente de fazer alguma coisa por si e pelos outros.

A esta altura, Siddhartha já estava casado com uma princesa de família real vizinha, sua prima, de nome Yasodhara - casou-se aos dezesseis anos -, e, passado dez anos, teve um filho chamado Rahula. Seu único filho. Sabendo do nascimento de seu filho, Siddhartha sentiu que seria mais um envolvimento que O impediria de descobrir as respostas que desejava encontrar. Lá pelos trinta anos, resolve então fugir à noite deixando a mulher e a família e consegue fazer isto com a ajuda de seu fiel escudeiro, Channa e de seu cavalo predileto, Kanthaka.

Nas florestas, e após ter abandonado as vestes reais, Siddhartha vai de encontro aos maiores Mestres da Yoga e do Hinduísmo. Com eles aprendeu tudo que tinham a ensinar, tornando-se até um discípulo querido deles. Mas Siddhartha não havia ainda conseguido encontrar com isto uma resposta para a dor. Siddhartha ficou seis anos entre yogas e mortificações da carne, tornando-se esquelético e quase morto. Um dia, farto de tudo isto, vendo que não estava nem um pouco mais esclarecido com tanta prática ascética, resolve voltar a alimentar-se e a banhar-se, antes de sair por conta própria para reiniciar sua busca de uma nova maneira. Ao fazer isto, cinco de seus companheiros de ascetismo acharam que ele estava fraquejando e O deserdaram como indigno.

Seguindo um impulso interior, cultivado por vidas sucessivas de autoaperfeiçoamento, Siddhartha estava agora pronto para fazê-lo expandir.



Buddha sentado abaixo da figueira

Aos 35 anos, senta sob a sombra de uma árvore de figueira (a árvore da Sabedoria), bodhi, na cidade de Gaya, hoje conhecida por Bodh Gaya, Índia, com a firme resolução de que não levantaria dali sem ter alcançado seu intento. E após ter vencido Mara, o demônio das ilusões, cai em profunda meditação. Passou por todas as fases de meditação e a Iluminação se deu, numa noite de lua cheia do mês de Maio ou Wesak, para o bem de todos os seres. Compreendendo a verdadeira natureza do sofrimento. Siddhartha havia morrido e nascia agora o Buddha, o Iluminado.


Buddha e os cinco ascetas
“Pondo a Roda da Lei em Movimento”

Buddha permaneceu ainda muitos dias em meditação, absorto na nova consciência que acabara de se Lhe abrir. Resolve então sair ao mundo para ensinar as Boas Novas, e decide contar Sua descoberta para justamente aqueles cinco ascetas que haviam abandonado ele em Gaya. Em Sua Visão clarividente, sabia que os ascetas se encontravam num parque em Benares, chamado Parque das Gazelas, em Isipatana, e se dirige para lá. No caminho, Buddha faz alguns convertidos, os primeiros discípulos de Sua Lei. Quando os cinco ascetas avistaram o Buddha caminhando na direção deles, eles resolveram ignorá-Lo. Mas à medida que Buddha se aproximava, Sua aura ou Seu andar eram tão diferentes que os ascetas caíram naturalmente aos pés do Mestre.

Buddha saúda cada um deles, relata o que havia se passado com ele, e profere Seu primeiro famoso Sermão, conhecido na literatura budista como “Pondo a Roda da Lei em Movimento”. Neste discurso, Buddha coloca em linhas gerais o Ensinamento que iria desenvolver até sua morte. Neste sermão, o Buddha apresenta As Quatro Nobres Verdades, esboça o Caminho Óctuplo (que é a quarta nobre verdade); fala que o esforço correto é o do equilíbrio equidistante de todos os extremos - o Caminho do Meio. Quando terminou de falar, o asceta Kondañño havia experimentado o Despertar, atingindo o primeiro estágio de santidade. Todos os cinco ascetas tornam-se discípulos.



Buddha e novos discípulos


A partir de então, Buddha faz cada vez mais discípulos, entre gente simples e gente rica, mercadores, servos, escravos, prostitutas, filósofos e yogues. Ensinou a cada um de acordo com sua capacidade, com Amor e Compaixão pela pessoa. Foi uma vida vivida por todos os seres. Buddha viveu por nós.






A partir daí foi conhecido por Buda, literalmente "o acordado", e, durante cerca de quarenta anos, até morrer, dedicou-se a ensinar a outros o caminho para chegar à iluminação.

O termo “Buda” é um título, não um nome próprio. Significa “O Desperto”, “aquele que sabe”, ou “aquele que despertou”, e se aplica a alguém que atingiu um nível superior de entendimento e a plenitude da condição humana. Foi aplicado, e ainda o é, a várias pessoas excepcionais que atingiram um tal grau de elevação moral e espiritual que se transformaram em mestres de sabedoria no oriente, onde se seguem os preceitos budistas. Porém o mais fulgurante dos budas, e também o real fundador do budismo, foi um ser de personalidade excepcional, chamado Sidharta Gautama.

Sidharta transformou-se no Buda em virtude de uma profunda transformação interna, psicológica e espiritual, que alterou toda a sua perspectiva de vida.Seu modo de encarar a questão da doença, velhice e morte mudou, porque ele mudou” (Fadiman & Frager, 1986).

Tendo atingido sua iluminação, Buda passa a ensinar o Dharma, isto é, o caminho que conduz à maturação cognitiva que conduz à libertação de boa parte do sofrimento terrestre.



Notícias de sua família

O Buddha recebe notícias de sua família após tê-la deixado, e, sem hesitar, atende ao pedido de seu pai, sete anos depois, achando-se ele em Rajagriha, o rei Suddhodana, enviou-lhe uma mensagem pedindo que retornasse a Kapilavastu para vê-lo ainda uma vez antes de morrer. O Buddha foi e seu pai recebeu-o com grande júbilo, com todos os seus parentes e ministros. Foi aí que Buda recebeu uma proposta de seu pai. Ao que ele respondeu ternamente que o Príncipe Siddhartha deixara de existir como tal, e que ele agora estava na condição de um Buddha. Falou que sua linhagem não era a casa solar dos Okkaka, mas a linhagem dos Buddhas, sem começo nem fim, e que se perdia nas brumas dos tempos.

Sua esposa Yasodhara, que lhe tomara o luto com o mais profundo amor, chorou amargamente. Mandou, por isso, que seu filho Rahula pedisse ao pai sua herança, na qualidade de sucessor ao trono real. Mas tudo o que Buddha fez foi dar-lhe a iniciação na Comunidade budista, tornando Rahula um monge. Buddha a todos pregou o Dharma como remédio para todos os males. Seu pai, seu filho, sua esposa, Ananda (seu primo-irmão), Devadatta, (seu primo e cunhado), e diversos outros foram convertidos e tornaram-se seus discípulos. Suddhodana deplorou bastante e queixou-se junto ao Buddha que quase toda a família real estava entrando para a Ordem. Pediu para que no futuro nenhum menor fosse então admitido na Ordem sem o consentimento dos pais ou tutores.

As mulheres também aderiram à Lei do Buddha

Entre elas, Prajapati, tia e ama-de-leite do Príncipe Siddhartha; Yasodhara, e diversas outras damas da corte foram admitidas na Ordem monástica como bikkhunis, ou monjas.

A Missão de Budha continua...

Eis que o número de discípulos aumenta cada vez mais, entre eles, seu filho e sua esposa. Os quarenta anos que se seguiram são marcados pelas intermináveis peregrinações, sua e de seus discípulos, através das diversas regiões da Índia.

O inimigo de Buda

Foi homem de grande inteligência, progrediu rapidamente no conhecimento do Dharma mas, como também era muito ambicioso, veio a invejar e a odiar cada vez mais o Buddha, tendo arquitetado planos para matá-lo, sem sucesso. Devadatta também convenceu Ajatashatru a matar seu pai, o rei Bimbisara, só porque o rei reconhecia o Buddha como Mestre, e não a Devadatta. A força dos atos caíram sobre a cabeça de Devadatta, que teve afinal morte horrível.

Buda continua sua Missão

Quarenta e cinco anos, durante os quais pregou muitas vezes ao povo, a reis, discípulos monges e leigos, mercadores, prostitutas e ladrões, etc. Buddha tinha o costume de viajar a pé com seus discípulos pela Índia durante os oito meses de estação seca. Quando começava a estação chuvosa - o período das monções conhecido como "Was" -; ele se recolhia com seus discípulos nos viharas e pansalas (templos-mosteiros e abrigos), que diversos reis e outros convertidos opulentos haviam mandado construir para eles. Era impossível viajar pelas florestas e estradas da Índia daquela época nas estações chuvosas, de forma que Buddha aproveitava este período para instruir seus discípulos na Lei e na Meditação. Esta tradição é seguida até hoje pelos monges Theravada, que observam este período de retiro e prática meditativa mais intensamente nesta época do ano, estejam onde estiverem no mundo.

Mosteiro budista

A Morte de Buddha

E após muitas pregações e andanças, quando completa oitenta anos, Buda sente seu fim terreno se aproximando.

Buda morreu em Kusinagara, no bosque de Mallas, Índia. Sete dias depois seu corpo foi cremado e suas cinzas dadas às pessoas cujas terras ele vivera e morrera.

Deixa instruções precisas sobre a atitude de seus discípulos a partir de então:

“Por que deveria deixar instruções concernentes à comunidade? Nada mais resta senão praticar, meditar e propagar a Verdade por piedade do mundo, e para maior bem dos homens e dos deuses. Os mendicantes não devem contar com qualquer apoio exterior, devem tomar o Eu - self - por seguro refúgio, a Lei Eterna como refúgio... e é por isso que vos deixo, parto, tendo encontrado refúgio no Eu”.

O Buda não se dizia encarnação divina, nem representante de qualquer divindade hindu. Foi um homem, porém o mais sábio e santo dos seres de nossa humanidade, tendo-se aprimorado no curso de incontáveis existências, muito acima de todos os outros indivíduos e deuses, fazendo evidenciar Sua natureza divina e búdica latente - que todos temos. Buddha não foi simplesmente um "sábio" nem um homem "amoroso", mas a mais perfeita combinação do Amor-Compaixão com a Sabedoria.






Títulos respeitosos se aplicaram ao Buddha

Sakyamuni ou Shakyamuni, o sábio do clã dos Sákyas;
Sakyasimha ou o Leão dos Sákyas;
Sugata, o Bem-Aventurado;
Jina, o Grande Vencedor;
Bhagavat, o Senhor;
Lokanatta, o Senhor do Mundo;
Sarvajna, o Onisciente;
Dharmaraja, o Rei da Verdade;
Tathagata, o Grande Ser, etc.



Os ensinamentos do Buda foram transmitidos pela primeira vez, fora da Índia, no Sri Lanka, durante o reinado do rei Asoka (272-232 a.C.). Na China, a História registra que dois missionários budistas da Índia chegaram na corte do imperador Ming no ano 68 d.C. e lá permaneceram para traduzir textos budistas. Durante a dinastia Tang (602-664 dC) um monge chinês, Hsuan Tsang, cruzou o deserto Ghobi até a Índia, onde reuniu e pesquisou sutras budistas. Ele retornou à China dezessete anos depois com grandes volumes de textos budistas e a partir de então passou muitos anos traduzindo-os para o chinês.



PRINCIPAIS PONTOS DA DOUTRINA DE BUDA


Temporalidade

A única constante universal é a mudança. Nada do que é físico dura para sempre; tudo está em fluxo em determinado momento. Isto também se aplica a pensamentos e idéias que não deixam de ser influenciados pelo mundo físico. Isto implica que não pode haver uma autoridade suprema ou uma verdade permanente, pois nossa percepção muda de acordo com os tempos e grau de desenvolvimento filosófico e moral. O que existem são níveis de compreensão mais adequados para cada tempo e lugar. Uma vez que as condições e as aspirações, bem como os paradigmas, mudam, o que parece ser toda a verdade numa época é visto como imperfeita tentativa de se aproximar de algo noutra época. Nada, nem mesmo Buda, pode tornar-se fixo. Buda é mudança.

Desprendimento

Já que tudo o que parece existir de fato apenas flui, como nuvens, também é verdade que tudo o que é composto também se dissolve. A pessoa deve viver no mundo, utilizar-se do mundo, mas não deve se apegar ao mundo.

Deve ser alguém que saiba utilizar-se do instrumento sem se identificar com o instrumento. Deve também ter a consciência de que seu próprio ego também se transforma com o tempo. Somente o self, o Atman imortal permanece, mesmo assim se desenvolvendo eternamente através das reencarnações e através dos mundos.

Insatisfação ou sofrimento

O problema básico da existência é o sofrimento, que não é um atributo de algo externo, mas sim numa percepção limitada que advém da adoção de uma visão de mundo defeituosa adotada pelas pessoas. Como disse Jesus: “apenas quem se faz como uma criança pode entrar no reino dos céus”, pois as crianças não se prendem ao passado nem se preocupam com um futuro. Elas vivem o presente e são autênticas com o que sentem, até o dia em que a cultura as fazem comer do “fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal”, enchendo-as de preconceitos e ansiedades que as expulsam do paraíso. Os ensinamentos budistas - e de todos os grandes Mestres da humanidade - são caminhos propostos para nos ajudar a transcender nosso senso comum egoísta para se atingir um senso de relativa satisfação conosco e com o mundo. Se o sofrimento é fruto da percepção individual, algo pode ser feito para amadurecer esta percepção, através do autoconhecimento: “Projetistas fazem canais, arqueiros atiram flechas, artífices modelam a madeira e o barro, o homem sábio modela-se a si mesmo”.

O Buda Sakyamuni ensinou que uma grande parcela do sofrimento em nossas vidas é auto-infligido, oriundo de nossos pensamentos e comportamentos, os quais são influenciados pelas habilidades de nossos seis sentidos. Nossos desejos, - por dinheiro, poder, fama, bens materiais... – e nossas emoções – raiva, rancor, ciúme, inveja... – são fontes de sofrimento causado por apego e por essas sensações negativas. Nossa sociedade tem enfatizado consideravelmente a beleza física, a riqueza material e o status social, desde tempos imemoriais. Nossa obsessão com as aparências e com o que as outras pessoas pensam a nosso respeito são também fontes de sofrimento.

Portanto, o sofrimento está primariamente associado com as ações da nossa mente. É a ignorância que nos faz tender à avidez, às vontades doentias e à ilusão. Como consequência, praticamos maus atos, causando diferentes combinações de sofrimento. O budismo nos faz vislumbrar maneiras efetivas e possíveis de eliminar todo o nosso sofrimento, e mais importantes, de alcançar a libertação do ego.


A Reencarnação


KARMA

Uma pessoa é a combinação de matéria e mente. A mente é a combinação de sensação, percepção, idéia e consciência. O corpo físico – na verdade, toda a matéria na natureza – está sujeito ao ciclo de formação duração, deterioração e cessação. O Buda ensinou que a interpretação da vida através de nossos seis sensores (olhos, ouvidos, nariz, língua, corpo e mente) não é mais do que uma ilusão (Maia). Quando duas pessoas experimentam um mesmo acontecimento, a interpretação de uma pode levar à tristeza, enquanto a da outra pode levar à felicidade. É o apego às sensações, desenvolvidas nesses seis sentidos, que resulta em desejo e ligação passional, ou seja, apego.

Os budistas acreditam que as condições dos nascimentos das pessoas estão associados à consciência proveniente das memórias e do Karma herdados de vivências passadas. “Karma” é uma palavra que significa, no sânscrito, “ação”, “trabalho” ou “feito”. Qualquer ação física, verbal ou mental, realizada com intenção, pode ser chamada de karma. Assim, boas atitudes poderiam produzir karma positivo e más ações karma negativo.

A Roda da Vida

O budismo acredita que um ser humano antes de atingir o Nirvana, lugar de absoluta tranquilidade, onde o sofrimento não existe, passa por diversos renascimentos. No interior de roda da vida jazem as seis esferas de existência onde os seres podem ser obrigados a renascer.




TIPOS DE EXISTÊNCIA

Há seis tipos de existência:

1) Devas (deuses), o reino dos deuses;
2) Asuras (semideuses), deuses rebeldes e ciumentos;
3) Humanos; dos seres humanos, caracterizado pelo nascimento, velhice, doença, mal - estar e morte;
4) Animais;
5) Pretas (espíritos famintos);
6) Seres do Inferno.

Sim, dentro da tradição budista, os deuses estão sujeitos às mesmas limitações humanas. Cada um desses seis reinos está sujeito às dores do nascimento, da doença, do envelhecimento e da morte. O renascimento em alguma dessas formas superiores ou inferiores é determinado pela qualidade dos atos do indivíduo, o karma.

No Budismo não existe a alma. Há somente a sequencia de um momento de aparecimento que dá origem ao seguinte, de forma que a morte representa simplesmente uma nova forma de aparecimento, como ser humano ou animal, no céu ou no inferno.


KARMA E RENASCIMENTO


Não é um eu ou alma que continua após a morte. O renascimento é possível porque as ligações cármicas não foram quebradas e ainda há energia para ser dissipada, como desejos e volição. O que renasce -- difícil de ser posto em palavras -- não é igual nem diferente à ultima personalidade. A reprodutividade do Karma nos conduz necessariamente ao problema do renascimento. É, de fato, um problema, porque se existe o Karma, tem de existir o renascimento também, e no entanto, não existe ser algum para ser reencarnado, de acordo com os ensinamentos de Anatta, ou "Não-eu".

Karma e Renascimento estão intimamente interligados. É justamente o conceito errôneo de acreditar numa entidade própria que dá origem ao problema, e é o processo da realidade que o resolve. O simples fato de haver a pergunta "o que é que renasce?", é baseada no desconhecimento do processo do Karma e da constituição do ser humano em partes agregadas e altamente coesas, mas todas perecíveis e "não-eu", ou "não-entidades".

o Karma não é uma entidade que passa de uma vida para outra, mas é a própria vida, visto que a vida é o produto do Karma. Em cada passo que damos agora na idade adulta, estão também as frágeis tentativas de nossa infância; como ações, elas foram um processo que passou com o ato, mas aquele processo deu origem a outros processos, que originaram outros processos. A transformação é contínua, e não há um "eu" que fica parado, esperando morrer para pular para outra vida... O "eu" é o processo de transformação contínua! Um fluxo! O que chamamos de "morte" nada mais é que uma das fases deste processo de eternas transformações. Mas não é um fluxo de coisas desconexas, mas sim um fluxo dos agregados, coordenados pelo Karma individual.


NIRVANA

 Nirvana

Através da prática diligente, do proporcionar compaixão e bondade amorosa a todos os seres vivos, do condicionamento da mente para evitar apegos e eliminar karma negativo, os budistas acreditam que finalmente alcançarão a Iluminação. Quando isso ocorre, eles são capazes de ascender ao estado de Nirvana. O Nirvana não é um local físico, mas um estado de consciência suprema de perfeita felicidade e libertação.




As Quatro Nobres Verdades e o Nobre Caminho Óctuplo

As Quatro Nobres Verdades foram compreendidas pelo Buda em sua Iluminação. Para erradicar a ignorância, que é a fonte de todo o sofrimento, é necessário entender As Quatro Nobres Verdades, caminhar pelo Nobre Caminho Óctuplo e praticar as Seis Perfeições (Paramitas).




As QUATRO NOBRES VERDADES são:

1) DUKKHA Satya (A Verdade do Sofrimento)
2) MAMUDAYA Satya (A Verdade da Causa do Sofrimento)
3) MIRODHA Satya (A Verdade da Cessação do Sofrimento)
4) MAGGA Satya (A Verdade do Caminho que leva à Cessação do Sofrimento)
1) DUKKHA Satya (A Verdade do Sofrimento) - Toda a existência é insatisfatória e cheia de sofrimento;

A vida é sofrimento. A vida está sujeita a todos os tipos de sofrimento, sendo os mais básicos o próprio nascimento (já chegamos nesse mundo com dor e medo), o envelhecimento, doença e morte. Ninguém, independente de quaisquer condições, está isento deles.
Dado o estado psicológico do homem comum, voltando seu desenvolvimento para o mundo externo de modo agressivo, a insatisfação que gera o sofrimento é quase inevitável.

A palavra páli "dukkha", usada por Buddha, em seu uso comum, significa "sofrimento", "dor", "tristeza", ou "miséria". Mas no contexto da Primeira Nobre Verdade, também significa "imperfeição", "impermanência", "vacuidade", "insubstancialidade". Em português claro, o mais próximo em nossa língua seria "insatisfatoriedade". A Primeira Nobre Verdade nos lembra da roda viva de sofrimentos e renascimentos sem fim, que os budistas chamam da Roda da Vida ou Samsara.

Existem três tipos de sofrimento:

- sofrimento comum;

- sofrimento produzido pela mudança das coisas, devido à impermanência

- sofrimento como efeito de estados condicionados da mente e do corpo

Analisemos um pouco estes três tipos:

Sofrimento Comum

Existe todo tipo de sofrimento na vida: nascimento, idade avançada, doença, morte, associação com pessoas e condições indesejáveis, separação dos entes queridos e das condições agradáveis, não conseguir o que se deseja, tristezas, lamentações e tensões -- todas são formas de sofrimento físico e mental.

Sofrimento Produzido pela Mudança

Sentimentos ou condições agradáveis na vida não são permanentes. Cedo ou tarde eles mudam ou cessam. Quando mudam, podem produzir dor, sofrimento, infelicidade e desapontamentos. Estas vicissitudes são consideradas sofrimentos produzidos pela mudança.

Sofrimento Como Estado Condicionado

Um "indivíduo", um "eu" ou um "ego" é uma combinação de forças mentais e físicas sempre mutantes, as quais podem ser agrupadas a grosso modo em cinco grupos (ou "agregados", como são chamados na filosofia budista), a saber:

Matéria (materialidade, corporalidade);
Sensações;
Percepções;
Formações ou tendências mentais;
Consciência.

O sofrimento como resultado de estado condicionado é produzido pelo apego ao que estes cinco agregados nos proporcionam dia a dia. Não vemos o quanto nos identificamos com eles, tomado-os em conjunto ilusoriamente como uma entidade estática, separada e auto-suficiente. Não existe uma entidade que sobreviva eternamente, nem que seja imutável, e isto o Buddha chamava de "impessoalidade", "não-eu" ou "insubstancialidade" de um ego eterno. Tudo aquilo que é composto, agrega-se e desagrega-se algum dia. Para a filosofia budista, só existe uma alma enquanto estes agregados estiverem coesos, seja aqui na terra ou no post-mortem. Assim que desagregam-se deixa de existir a entidade como tal. É uma grande ilusão da mente o artifício do ego.

Vale lembrar: Buddha nunca disse que tudo é sofrimento, mas que tudo encerra uma possibilidade de causar sofrimento. Em seus sermões lembrou diversos acontecimentos corriqueiros de nossas vidas, que para nós são sofrimento, na medida que não estamos conscientes de como as coisas atuam e não somos senhores de nós mesmos, parte devido a tanto condicionamentos automatizados, parte à ignorância intrínseca que todos temos. Buddha não foi pessimista nem otimista, mas antes um realista. Em outros sermões reconhece diversas situações de felicidade. Somente quis chamar nossa atenção para a verdade da existência dos sofrimentos, porque não estamos conscientes deles, porque estamos devaneando, achando que tudo está bem, quando estamos na verdade sofrendo, e muito. Achamos que este sofrimento é “da vida”, “natural”, e nada pode ser feito. Engano. Buddha justamente vem e nos “sacode” do torpor mental dizendo: “Isto é sofrimento. Acorde e haja, agora”. Somente após estarmos conscientes do que se passa conosco é que estaremos motivados a fazer alguma coisa. As pessoas perguntam como se chega a um determinado lugar, e quem responde deve saber onde aquela pessoa se encontra naquele momento. Dependendo de onde ela esteja, ela pode dar as direções corretas para chegar ao objetivo, se é para o norte ou para o sul, etc. Da mesma forma, se nossas existências são dolorosas e desejamos mudar, devemos antes saber onde estamos. Somente quando as coisas são vistas sob um prisma realista, imparcial e objetivamente é que a libertação será possível. A Primeira Nobre Verdade é esta constatação imparcial. Equivale a uma tomada de consciência. Ela é somente a porta de entrada para a mensagem de que há uma saída para nossos problemas.

Em resumo, a Primeira Nobre Verdade é a constatação da dor.

2) MAMUDAYA Satya (A Verdade da Causa do Sofrimento) - Este sofrimento é causado pela ignorância, pelo desejo ardente ou apego – esforço constante para encontrar algo de eterno e estável num mundo transitório;

A ignorância leva ao desejo e à ganância, que, inevitavelmente, resultam em sofrimento. A ganância produz apego, uma das raízes do sofrimento.

A insatisfação é o resultado de anseios ou desejos que não podem ser plenamente realizados, e estão atrelados à sede de poder. A maioria das pessoas é incapaz de aceitar o mundo como é porque é levada pelos vínculos com o desejo narcisivo do sempre agradável e com sentimentos de aversão pelo negativo e doloroso. O anseio sempre cria uma estrutura mental instável, no qual o presente, única realidade fenomênica, nunca é satisfatório. Se os desejos não são satisfeitos, a pessoa tende a lutar para mudar o presente ou agarra-se a um tempo passado; se são satisfeitos, a pessoa tem medo da mudança, o que acarreta novas frustrações e insatisfações. Como tudo se transforma e passa, o desfrutar de uma realização tem a contrapartida de que sabemos que não será eterno. Quanto mais intenso for o desejo, mais intensa será a insatisfação ao saber que tal realização não irá durar.

A principal causa do sofrimento é o apego ao desejo e ao nosso intenso "querer", ou tanha na terminologia budista. Este "querer" manifesta-se em seus dois aspectos de atração e repulsão (aversão), dependendo em como as experiências nos sejam agradáveis ou não.

Os desejos podem ser agrupados em:

Desejos pelos prazeres dos sentidos;
Desejos por "tornar-se" , vir-a-ser alguma coisa, ou obter alguma coisa; de existir;
Desejos de não existir.

O desejo dos sentidos surge em conexão com um ou mais órgãos dos sentidos (incluindo-se aí a mente). Este desejo se manifesta como querer ter experiências prazerosas: o gosto pela boa comida, experiências sexuais, músicas agradáveis, etc. O prazer não é a sensação nascida dos sentidos; uma pessoa pode ter prazer em uma sensação, ou ser-lhe indiferente, portanto, o prazer depende da atitude mental da pessoa, que varia com os condicionamentos de costumes de família, do país, da religião, da época, etc. O desejo de existir, de vir a ser alguma coisa, de ter uma existência separada ou egocêntrica é um dos mais fortes, porque todos nós temos o desejo de continuidade, de autopreservação; que este suposto eu viva eternamente. Levado pela ilusão, o homem se delicia nos prazeres dos sentidos e no fato de sua existência -- "eu existo" ou "minha existência" --, conceituando as coisas como sendo "meu", "minha" -- meu corpo, meus filhos, minha profissão, meus pertences e minha reputação. Não vê que todas estas coisas são "emprestadas", e quando um ladrão vem e nos leva um pertence, ou quando alguém morre, achamos que a vida nos deu uma "rasteira", e não vemos que a ilusão de uma existência egoísta é a causa sofrimento. As coisas são como são, e nós preferimos fazer as coisas serem o que elas não são. Impermanência e impessoalidade são as características de todos os fenômenos manifestados. Somente como Olho da Sabedoria - o Olho do Dharma - é que podemos ver as coisas como elas realmente são.

O desejo de não existir apenas confirma a ilusão da existência de um ego, pois é baseado na sua existência que a pessoa, frustrada e cansada, deseja aniquilá-lo ou paralisá-lo. Esta classe de desejo é a base de impulsos suicidas e auto-mutiladores, bem como diversas doenças psíquicas.

Vale lembrar: não há nada de errado em ter prazer ou desejos. O erro é nos subjugarmos a eles através do apego, e em vez de sermos senhores de nossa situação, somos na verdade escravos deste apego-aversão. E com isto sofremos. E mais: desconhecemos o fato de que a cessação do desejo é felicidade. Veja por exemplo: ao obtermos algo que desejamos ficamos felizes. A realização daquele desejo, preenchendo-o e finalizando-o é a experiência da felicidade. Pela lei da impermanência, esta experiência tem um fim, e pelo apego gerado desejamos reviver aquela felicidade. Só que este desejo pedindo imediata satisfação cria tensão, angústia, medos, etc. Ficamos presos então a uma roda viva de desejos-satisfação-apego-aversão-outro desejo... Agora pensem em quando um desejo não tem a possibilidade de ser satisfeito ou cessado, no que isto pode acarretar...

Em resumo, a Segunda Nobre Verdade é o diagnóstico da dor.

3) MIRODHA Satya (A Verdade da Cessação do Sofrimento) - O sofrimento ou insatisfação pode-se superar na totalidade – é o Nirvana;

A cessação do sofrimento advém da eliminação total da ignorância e do desapego à ganância e aos desejos, alcançando um estado de suprema bem-aventurança ou Nirvana, onde todos os sofrimentos são extintos.

O controle dos desejos leva à extinção do sofrimento. Controlar o desejo não significa extinguir todos os desejos, mas sim não estar amarrado ou controlado por eles, nem condicionar ou acreditar que a felicidade está atrelada à satisfação de determinados desejos. Os desejos são normais e necessários até certo ponto, pois eles têm a função primária de preservar a vida orgânica. Mas se todos os desejos e necessidades são imediatamente satisfeitas, é provável que passemos a um estado passivo e alienado de complacência. A aceitação refere-se a uma atitude calma de desfrute dos desejos realizados sem nos perturbarmos seriamente com os inevitáveis períodos de insatisfação.

A Terceira Nobre Verdade nos fala da possibilidade de cessar o sofrimento. Em termos budistas, isto só é possível quando alcançamos aquela maestria interior resultante de uma compreensão profunda e amorosa das coisas e de nós mesmos, através da luz da Sabedoria (com "s" maiúsculo, porque não se trata da sabedoria livresca ou erudição). O homem não se liberta sem desenvolver em si o afloramento da Sabedoria interior, do Amor e da Compaixão, itens imprescindíveis para a nossa sobrevivência, ensinados por Buddha. Alcançar a cessação do sofrimento é realizar o Nirvana, ou Nibbana. Esta palavra é hoje de conhecimento mundial, mas seus significados verdadeiros são amplamente desconhecidos. Dependendo de como se veja a composição desta palavra, temos diversos significados. "Nir" em sânscrito é "não", e "vana" é "cordão"; assim Nirvana pode ser traduzido como "não estar preso", ou "estar liberto". Mas liberto do que? Liberto da tirania do ego, da ignorância, da ilusão e da dor!!! Esta foi a Grande Conquista do Buddha. E isto Ele conseguiu através de vidas e vidas de dedicação. O Nirvana é um estado do ser, e não um lugar ou "céu". Ele é realizado por todo aquele que vence a si mesmo; por aquele que renunciou ao “eu” e ao apego. Deve-se notar que a mera renúncia ou restrição dos desejos não é o Nirvana, pois se assim fosse seria igual ao aniquilamento e seria fácil resolver nossas dores. Já de partida Buddha ensinou que não existe nenhum eu para que seja aniquilado, mas sim para ser compreendido. Nirvana não é o aniquilamento, pois continua-se a pensar, sentir e viver. O Iluminado somente não gera apego aos objetos dos sentidos e da mente.

Disse o Buddha: "Monges, existe o Não-nascido, o Não-formado, o Não-causado, o Não-condicionado. Se não existisse esse Não-nascido, esse Não-formado, esse Não-causado, esse Não-condicionado, não haveria nenhuma possibilidade de libertação para o que é nascido, formado, causado e condicionado".

O Nirvana não é resultado de nossas ações, pois é um estado incondicionado. Está além da condicionalidade. Poderá surgir a seguinte pergunta: "se Nirvana não depende de nossas ações, para que tanto treinamento dirigido para o bem e as boas obras no Budismo"? É uma pergunta interessante, mas enganosa. A natureza essencial de nossa mente é de pureza ou iluminação. Somos Buddhas em potencial, mas não sabemos disto. Assim como uma pedra ou metal precioso estão escondidos latentes dentro do minério ou da rocha, precisam ser lapidados e polidos para que evidenciem suas qualidades. O polimento em si não cria a preciosidade, mas afasta as impurezas que a obscureciam. Somente isto. Da mesma forma as boas ações e práticas meritórias são um polimento espiritual para nossas mentes que estão, no momento, cercadas e tomadas pela escória das paixões, da ilusão, da ignorância, da raiva e da má vontade. Isto tudo deve ser dissipado antes que a mente alce seu vôo livremente e viva no Nirvana, no aqui e no agora.

Buddha atingiu o Nirvana em vida, aos 35 anos, quando a persona “Gautama Siddhartha” morria para dar lugar ao Iluminado Vivo. Por tradicional comodismo do jogo de palavras, diz-se que Buddha entrou no Nirvana no momento de sua Morte, mas isto é incorreto. O que aconteceu é que já estando Ele vivenciando o Nirvana por quarenta e cinco anos, no momento de Seu desenlace viu-se finalmente livre do estorvo do corpo físico, entrando em verdade no Paranirvana ou Parinibbana, o Nirvana integral.

O Nirvana é um estado de inefável bem-aventurança, de paz e alegria sem limites, como se atesta pelas declarações daqueles que o atingiram. Aquele que realizou esta Verdade é o mais feliz dos seres. Sua saúde mental é perfeita; não se arrepende do passado nem se preocupa com o futuro; vive o momento presente e está livre da ignorância, dos desejos egoístas, do ódio, da vaidade, do orgulho. Torna-se um ser puro, meigo, cheio de Amor Universal, Compaixão, bondade, simpatia, compreensão e tolerância. Presta serviço aos outros com a maior pureza, não procura lucro, nem acumula coisa alguma, nem mesmo bens espirituais, pois está liberto do desejo de vir a ser alguma coisa.


“Naquele que é caridoso a virtude crescerá. Naquele que domina a si próprio nenhuma cólera poderá aparecer. O homem justo rejeita toda maldade. Pela extirpação da concupiscência, do ódio e de toda ilusão, tu atingirás o Nirvana” -- o Buddha, Mahaparinibbana Sutta.


"Fazei com que tua mente repouse na Verdade, difunde a Verdade e ponha a Verdade em teu ser. E na Verdade, viverás eternamente! O apego ao eu e à personalidade é morte contínua, ao passo que quem vive e se move na Verdade, alcança o Nirvana" -- o Buddha


Recapitulando: para compreender o Incondicionado (Nirvana) precisamos ver que tudo que tem a natureza de nascer tem a natureza de morrer; que todo fenômeno que tem uma causa é impermanente. Ao deixarmos as coisas serem o que são, sem agarrá-las, o desejo pode ser dominado e a liberação do sofrer atingida.

Em resumo, a Terceira Nobre Verdade é a descoberta da possibilidade de cessação da dor.

4) MAGGA Satya (A Verdade do Caminho que leva à Cessação do Sofrimento) - Consegue-se alcançar a nirvana seguindo o nobre cominho das Oito Vias: (estas oito vias não têm de ser seguidas por um ordem estabelecida)

O caminho que leva à cessação do sofrimento é o Nobre Caminho Óctuplo. Há essa forma de se eliminar o sofrimento: exemplificado pelo Caminho do Meio.

"O Bhagavad-gita ensina que os extremos devem ser evitados a qualquer custo em todas as esferas da vida. Esta moderação do Gita é elogiada pelo Senhor Budda, que chamou-a de "Caminho do Meio", a reta via, ou o nobre caminho. Uma mente e corpo saudáveis são requeridos para o sucesso de uma realização de qualquer pratica espiritual. Portanto, requer-se que um yogi deva ser regulado na suas funções corpóreas diárias, como no ato de comer, dormir, banhar-se, descansar e na recreação. Aqueles que comem muito, ou pouco, podem tornar-se doentes ou fracos. Recomenda-se preencher o estômago pela metade com alimentos, outra quarta parte com água, e deixar o resto com ar. Se alguém dorme mais do que seis horas, a preguiça, a paixão e a bile podem aumentar. Um yogi deve evitar a gratificação extrema no controle dos desejos bem como a oposição extrema da disciplina, torturando o corpo e a mente."

A maioria das pessoas busca o mais alto grau de satisfação dos sentidos, e nunca se dão por satisfeitas. Outros, ao contrário, percebem as limitações desta abordagem e tendem ir ao outro prejudicial extremo: a mortificação. O ideal budista é o da moderação. O Caminho Óctuplo consiste no discurso, ação, modo de vida, esforço, cautela, concentração, pensamento e compreensão adequados. Todas as ações, pensamentos, etc, tendem a ser forças que, expressando-se, podem magoar as pessoas e a ferir e limitar a nós mesmo. O caminho do meio segue a máxima de ouro de Jesus Cristo:

“Fazei aos outros o que gostariam que fizessem a vós”.

Esta Verdade indica o Caminho a tomar para a cessação do sofrimento. Este Caminho prático é constituído de oito fatores -- assim, é também conhecido como Nobre Senda Óctupla ou Caminho do Meio. Antes de apresentá-lo, umas considerações. O Caminho é chamado de "nobre" porque coloca nossas vidas funcionando no lado positivo. É chamado de “senda” porque nós temos de percorrê-lo, recriá-lo, trabalhá-lo; ninguém fará isto por nós. É chamado de "óctupla" porque apresenta oito fatores que estão funcionando para o sustento de nossas vidas. O espírito deste caminho é o meio-termo equidistante de todos os extremos, evitando a auto-indulgência de um lado e a auto-tortura de outro. O segredo está no "meio-termo". A Quarta Nobre Verdade consiste na base de todo treinamento budista, e consiste em três áreas de atuação simultâneas: Vida ética, Concentração e Sabedoria. As 3 estão interligadas e se complementam.



O símbolo universal budista da Roda, a Roda da Lei -- que se opõe à Roda da Vida de ignorância e sofrimentos, não é um símbolo fortuito. Como o nome já diz, a Nobre Senda Óctupla é composta por oito fatores, os quais são representados pelos oito raios da Roda. Cada Raio representa um fator que nós todos temos funcionando em nossas vidas diárias, só que de forma incompleta, de forma parcial, obscura ou errônea. Budismo nada mais é que uma forma prática para colocar estes oito fatores funcionando em nossas vidas em seu lado pleno, completo, desimpedido, correto. Podemos ver que Budismo não é diferente de nossa vida diária; seu caminho não consiste em especular ou fugir do mundo, mas pelo contrário, atuar nele conscientemente. O último fator ou elo da Roda está intrinsecamente interligado ao primeiro, de forma que a Roda deve ser girada em todos os seus itens, passo a passo, começando onde nós estamos ou achamos mais fácil. E que fatores são estes?



O NOBRE CAMINHO ÓCTUPLO

1) Compreensão Correta ou Completa - Compreensão certa (ou Fé pura/Justa Fé)
2) Pensamento Correto - Pensamento dirigido certo (ou vontade pura/Justa Aspiração)
3) Palavra Correta - discurso certo (ou linguagem pura/Justa Conversação)
4) Ação Correta - Conduta certa (ou ação pura/Justa Conduta)
5) Meio de Vida Correto - Esforço certo (ou aplicação pura/Justo Modo de Vida)
6) Esforço Correto - Vida certa (ou meios de subsistência puros/Justo Esforço)
7) Plena Atenção Correta (Conscientização Completa ou Correta) - Atenção certa (ou memória pura/Justa Recordação)
8) Concentração Correta - Concentração certa (ou meditação pura/Justa Meditação)

1) Compreensão Correta ou Completa - Compreensão certa (ou Fé pura/Justa Fé)

Conhecer as Quatro Nobre Verdades de maneira a entender as coisas como elas são.

Sobre cada item há muito do que se falar. Entretanto, o presente catecismo não se propõe a detalhá-los agora, dizendo somente que, com o estabelecimento de cada um desses fatores em seu lado mais pleno e puro em nossas vidas, criamos uma base sólida para a espiritualidade com uma vida ética - que é diferente de qualquer moralismo imposto ou auto-imposto -, crescemos em concentração e Vigilância ou plena atenção, e chegamos cada vez mais perto da Sabedoria. Só a Sabedoria é capaz de livrar-nos dos sofrimentos criados por nós mesmos e pelos outros. Só através da Sabedoria vemos a Verdade, e a Verdade nos libertará.


2) Pensamento Correto - Pensamento dirigido certo (ou vontade pura/Justa Aspiração)

Desenvolver as nobres qualidades da bondade amorosa e da aversão a prejudicar os outros.

Parte importante deste treinamento é a cultura mental, da qual o Budismo conta com mais de 2.500 anos de práticas testadas. A "cultura mental" é precariamente traduzida por "meditação", e constitui a ferramenta principal para o nosso esclarecimento e auto-conhecimento, trazendo-nos o conhecimento sem palavras ou conceitos acerca da Realidade. Trazendo-nos Sabedoria.

3) Palavra Correta - discurso certo (ou linguagem pura/Justa Conversação)

Abster-se de mentir, falar em vão, usar palavras ásperas ou caluniosas.

Todo budista que pratique sua religião procura desenvolver qualidades e aptidões, sem os quais seu desenvolvimento espiritual não se estenderia longe. Amor, Compaixão, equanimidade, paciência, tolerância, respeito a todas as formas de vida, justiça, etc, são somente alguns. Deverá aplicar o esforço correto para trilhar o caminho do meio, ficando longe de radicalismos, de pontos de vistas extremos e errôneos, vivendo conforme o conselho de Buddha: se esticarmos demais as cordas do violão elas arrebentarão, e se as deixarmos frouxas, elas não produzirão o som adequado. O ideal está no meio-termo, na medida correta das coisas. Assim, cada budista deverá descobrir qual é o seu "Caminho do meio".

4) Ação Correta - Conduta certa (ou ação pura/Justa Conduta)

Abster-se de matar, roubar e ter conduta sexual indevida.

Impermanência ou Anicca

Teoricamente sabemos que ela existe, mas em verdade desconhecemos como a impermanência é lei geral da manifestação. O universo, com todos os seus planos e seres, estão num estado de eterno fluxo, ou movimento. Devido à tremenda velocidade de vibração e transformação das coisas e situações, nossos sentidos são incapazes de mostrar o âmago dos fenômenos. Por exemplo, se girarmos um ponto de luz rapidamente no escuro, veremos um círculo onde não há círculo algum. A velocidade cria a ilusão de continuidade. Assim, o tumulto infindo de diálogos internos, tendências, pensamentos, sensações, percepções -- e a consciência decorrente destas coisas, cria a ilusão de uma personalidade coerente e contínua, que chamamos de "meu eu". Esta verdade só é compreendida em meditação.

Tudo que tem uma causa, ou depende de contribuições externas para existir, tem um início e um fim. São os chamados fenômenos condicionados, e os fenômenos condicionados são transitórios. Mas é aos fenômenos condicionados que o "eu" se apega, e quando há apego ao que é impermanente, há sempre sofrimento.

5) Meio de Vida Correto - Esforço certo (ou aplicação pura/Justo Modo de Vida)

Evitar qualquer ocupação que prejudique os demais, tais como o tráfico de drogas, matança de animais, desmatamento da amazônia, por exemplo e muitas outras.

Impessoalidade ou "Não-eu" (ou Anatta)

Desde o grande cosmos até a menor partícula subatômica, não existe uma entidade como pensamos que exista -- independente, autônoma. Tudo é uma grande rede de relações interdependentes, ensina o Budismo. Um acontecimento aqui afeta alguém ou alguma coisa acolá. Para a mente comum, um acontecimento torna-se espantoso e surpreendente porque nosso mundo mental ao qual estamos habituados é limitado, não alcança a amplidão de um processo cósmico. Assim, falamos em "sorte", "sincronismo", "azar", "rapport", "sintonia", "desgraça", "vontade divina" e o que mais pudermos rotular para esconder nossa ignorância.

Todas as coisas se relacionam graças à Lei de Originação Dependente , proclamada e explicada por Buddha, em linhas gerais:

"Estando isto presente, isso acontece. Do aparecimento disto, isso vem à existência. Estando isto ausente, isso não acontece. Da cessação disto, isso cessa".



Física Quântica

A física quântica veio a corroborar uma mensagem budista: a de que este mundo é ilusório; sua materialidade é composta de espaço vazio e partículas subatômicas que vagam neste espaço vazio em alta velocidade, mas das quais nunca poderemos prever onde elas estarão, ou que caminho percorrerão num dado momento, sendo que a simples tentativa de observá-las já afeta as características de seus movimentos. É o princípio da incerteza. Não dá para garantir onde encontraremos uma dada partícula. A matéria é então constituída de muito espaço vazio e partículas diminutas em movimento incerto. A nossa noção de corporalidade, solidez, suavidade etc, depende do grau de agitação das partículas em movimento. Nossos sentidos não são capazes de penetrar nos níveis subatômicos e ver a realidade incerta que constitui a matéria. A interdependência da mente e da matéria fica muito clara nestas experiências dos físicos quânticos, pois a mente do observador afeta os resultados da experiência, o que nos lembra a Lei de Originação Dependente e a Teoria da Relatividade desenvolvida por Einstein, de que toda experiência precisa de um referencial. O físico estabelece um ponto referencial e mede as coisas a partir dele. Nosso "eu" é somente um referencial, para que possamos funcionar no mundo. Os diversos agregados que o compõem equivalem às partículas que, sozinhas não são nada, mas que funcionando juntas dão a idéia de um corpo sólido e consistente.

6) Esforço Correto - Vida certa (ou meios de subsistência puros/Justo Esforço)

Praticar autodisciplina para obter o controle da mente, de maneira a evitar estados de mente maléficos e desenvolver estados de mente sãos.

Moralidade ou Vida Ética (ou Síla)

Aderir aos preceitos é essencial como proteção para a própria pessoa como para os outros. Ao mesmo tempo que estas as linhas a seguir definem um código de disciplina, as virtudes que trazem uma conduta moral podem também ser cultivadas com a prática do cultivo das qualidades do coração.

Existem 5 Preceitos básicos que os praticantes budistas se comprometem (monges e monjas tem muitos mais). Uma análise moderna destes preceitos é feita pelo monge Zen vietnamita Thich Nhat Hanh, a saber:

1. Reverência pela vida - abster-se de matar;
2. Generosidade - abster-se de roubar;
3. Responsabilidade sexual - abster-se de má conduta sexual;
4. Escutar com profundidade e falar com amor - abster-se da mentira;
5. Consumo consciente - abster-se de ingerir intoxicantes.

No contexto do Caminho Óctuplo, estes cinco preceitos implicam:

Fala Correta;

Fala Correta significa falar a verdade e falar apropriadamente, de acordo com o quarto preceito. Especificamente, implica em abster-se de:

Mentiras;
Fofocas e falas que causam a divisão;
Linguagem rude e abusiva;
Conversas vãs e sem utilidade

Ação Correta;

Ações corretas são aquelas consistentes com os preceitos 1, 2, 3 e 5. Elas compreendem ações que demonstrem reverência pela vida, generosidade e controle da conduta sexual.

Meio de Vida Correto

Meio de vida correto significa que a pessoa deveria sobreviver de uma atividade que permita o desenvolvimento dos cinco preceitos. Lidar com armas, drogas, violência, exploração dos outros e fazer lucro fácil com a boa fé alheia não conduzem a uma vida moral.

7) Plena Atenção Correta (Conscientização Completa ou Correta) - Atenção certa (ou memória pura/Justa Recordação)

Desenvolver completa consciência de todas as ações do corpo, fala e mente para evitar atos insanos.

"Meditação" e Cultura Mental

A prática da meditação desenvolve a conscientização (sati) e a concentração ou absorção (samadhi). Ela é um dos três pilares do Nobre Caminho Óctuplo. Desenvolver as qualidades do coração : gentileza, compaixão, simpatia-alegria e equanimidade também são possíveis através de meditações específicas.

8) Concentração Correta - Concentração certa (ou meditação pura/Justa Meditação)

Para obter serenidade mental e sabedoria para compreender o significado integral das Quatro Nobres Verdades e para alcançar a purificação absoluta e, por conseguinte, a iluminação, o Budismo propõe numerosos exercícios. O “Yoga” é o principal.

"Aqueles que aceitam este Nobre Caminho como um estilo de vida viverão em perfeita paz, livres de desejos egoístas, rancor e crueldade. Estarão plenos do espírito de abnegação e bondade amorosa.”

Venerável Mestre Hsing Yün.

A Lei de Karma - Responsabilidade Pessoal

No Ensinamento Budista, a Lei de Karma diz somente isto: “Para cada evento que ocorre, ocorrerá um outro evento cuja existência foi causada pelo primeiro, e este evento será agradável ou desagradável conforme suas raízes sejam benéficas ou não”. Um evento benéfico é aquele que não é acompanhado pela ânsia ou ilusão, e um evento maléfico o é. Na verdade, os eventos não são maléficos ou benéficos por si sozinhos, mas sim devido ao estado mental que os geraram e que eles condicionam. Portanto, a Lei de Karma nos ensina que a responsabilidade dos atos é de quem os realiza.








BREVE PARINIRVANA SUTRA

O ÚLTIMO DISCURSO DE BUDHA

Sermão de Buddha

Quando Xaquiamuni Budha girou pela primeira vez a Roda do Dharma, Ajnata-kaundinya despertou e, em seu último discurso do Dharma, foi Subhadra quem se iluminou. Todos que deveriam ser despertos assim o foram. Entre duas árvores sala, Budha estava quase entrando em Parinirvana. Era o meio de uma noite calma, sem sons. Para o bem de todos os seus discípulos, Xaquiamuni Budha fez uma breve explanação dos fundamentos do Dharma:
 

Oh, Monges! Depois de minha morte respeitem e compartilhem os Preceitos.
 

Manter os Preceitos é como encontrar uma luz na escuridão, é como uma pessoa pobre encontrar um grande tesouro. Saibam que os Preceitos são seu mestre. Manter os Preceitos é Me manter sempre vivo neste mundo. Aqueles que mantém os Preceitos não devem se dedicar ao comércio e não devem possuir campos e moradias, não devem governar sobre outras pessoas, nem manter servos ou animais. Devem evitar manter plantações e acumular bens, da mesma forma que evitariam uma fogueira. Não devem cortar grama nem árvores, arar o solo ou cavar a terra.
 

Misturar remédios, ler a sorte, observar a posição das estrelas, predizer as fases da lua, calcular calendários e dias auspiciosos, são coisas que não devem ser feitas.
 

Controlem seus corpos, comam nas horas certas, se conduzam em pureza. Não se envolvam nos afazeres mundanos, nem ajam como mensageiros. Não façam mágicas, misturem poções e nem se tornem íntimos com pessoas eminentes. Tudo isso não deve ser feito. Com a mente clara e correta atenção, vocês devem procurar o despertar. Vocês não devem esconder seus erros, exprimir pontos de vista errôneos, nem liderar pessoas erradamente. Ao receber as quatro espécies de ofertas, saibam a quantia correta e fiquem satisfeitos. Não acumulem ofertas.

Agora vou falar, brevemente, em como proteger os Preceitos.

Os preceitos são a base da verdadeira libertação, por isso são chamados de Pratimoksa – o que leva a libertação. A confiança nos Preceitos faz surgir todos os dhyanas e a sabedoria da extinção do sofrimento. Por esta razão, Oh Monges!, vocês devem manter os Preceitos e não os devem infringir. Se vocês mantiverem os Preceitos obterão o Bem. Se não os mantiverem, nenhum mérito surgirá. Assim saibam que os Preceitos são o local onde vive a equanimidade, que é o mérito fundamental.

Oh, Monges! Vocês que mantém os Preceitos devem controlar os cinco sentidos.

Não deixem os sentidos desprotegidos, permitindo que os cinco desejos penetrem. È como o vaqueiro que brande sua vara para evitar que o gado invada a plantação de outra pessoa. Se há indulgência nos cinco sentidos os cinco desejos ficarão à solta e vocês serão incapazes de controlá-los. Novamente repito, é como um cavalo bravo que não pode ser controlado pelo chicote e cai numa vala levando seu cavaleiro com ele. Da mesma forma, o sofrimento de ser ferido por um ladrão, dura apenas uma vida; enquanto que o mal causado pelos cinco sentidos, se estende através de muitas vidas criando grande dor. Não negligenciem a atenção. É por esta razão que a pessoa sábia controla seus sentidos, não os segue, mantendo-os guardados, não permitindo que vagueiem ao léu e mesmo quando os libertam, logo se extinguem.
 

A mestra dos cinco sentidos é a mente. Por esta razão vocês devem controlar suas mentes. A mente deve ser mais temida que as cobras venenosas, bestas selvagens ou assaltantes vingadores, mesmo grandes incêndios e destrutivas enchentes não podem a ela ser comparadas. É como uma pessoa que, correndo celeremente com uma jarra de mel nas mãos, olhe apenas para o mel e não veja um grande buraco. Repito, é como um elefante enlouquecido sem uma corrente ou um macaco pulando nas árvores, ambos são muito difíceis de se controlar. Dominem a mente, imediatamente, e não a deixem desembestar. Se cederem, perderão a boa sorte de terem nascido humanos. Se mantiverem a mente focalizada, não haverá algo que não possam obter. Por esta razão, Monges, vocês devem se esforçar com muita diligência, para manter a mente sobre controle.

 
Oh, Monges! Quando receberem comida e bebida, vocês devem considerá-las como remédio.

Não peguem mais daquilo que gostam e menos daquilo que desgostam. Apenas aceitem o suficiente para manter suas vidas e evitar a fome e a sede. Assim como a abelha apanha apenas a doçura das flores sem lhes manchar a cor ou tirar sua fragrância, assim vocês devem fazer. Aceitem apenas o suficiente das ofertas para evitar tristezas. Não peçam muito para não destruir boas intenções. Isto pode ser comparado com a pessoa sábia que conhece a força de seu touro e não o sobrecarrega.

Oh, Monges! Durante o dia, pratiquem com determinação o bom ensinamento.

Não percam tempo. Da mesma forma, à noite e pela manhã antes do amanhecer, não negligenciem seus esforços. No meio da noite, recitem os Sutras. Assim vocês devem ordenar suas vidas. Não deixem que a vida passe à toa, sem obter a realização, apenas dormindo. Vocês devem se lembrar que o mundo todo está sendo consumido pelo fogo da impermanência. Rapidamente procurem pelo despertar e não pelo dormir. As paixões estão sempre prontas para matar uma pessoa, mais do que um inimigo mortal. Como vocês podem ficar dormindo e abaixar a guarda? As paixões são como uma cobra venenosa dormindo em sua mente. Não são diferentes de uma cobra negra dormindo em seu quarto, espante-a com a ponta aguda dos Preceitos. Só depois que a cobra sair, vocês poderão dormir tranquilos. Se dormirem enquanto a cobra ainda está lá, vocês estarão agindo sem consciência. Entre as coisas refinadas, a tecedura da consciência é a melhor. A consciência é como uma agulha de ferro com a qual se pinçam os enganos. Assim sendo, Monges, sempre sigam sua consciência e não a ignorem nem por um só momento. Esquecendo-se da consciência, perdem-se todos os méritos. Aqueles que conhecem o pudor, sabem do bom ensinamento. Aqueles que não conhecem o pudor, não são diferentes de bestas selvagens.

Oh, Monges! Se alguém vier desmembrá-los, articulação por articulação, vocês devem controlar a mente e não permitir que a raiva surja.

Da mesma forma vocês devem proteger suas bocas, caso contrário, palavras más sairão delas. Se vocês permitirem pensamentos de raiva, vocês estarão obstruindo seus próprios caminhos e perdendo o benefício de seus méritos. A paciência é uma virtude que nem mesmo mantendo os Preceitos, nem as práticas ascéticas podem igualar. As pessoas que praticam a paciência, podem verdadeiramente ser chamadas de poderosas, de seres superiores. Aquelas pessoas que não podem aceitar o veneno do abuso com paciência e alegria, como se estivessem bebendo o néctar celestial, não podem ser chamadas de pessoas que adentraram o Caminho. Por que? Porque os efeitos maléficos da raiva quebram todos os bons ensinamentos e destroem o bom nome, de forma que, tanto no presente como no futuro, as pessoas não sentirão prazer ao vê-los. Vocês devem saber que a raiva é mais poderosa que um fogo ardente. Sempre se protejam e não permitam que a raiva penetre. Nenhum ladrão rouba mais méritos do que a raiva. Leigos, cheios de desejos, sem praticar o Caminho, não conhecem os ensinamentos para se poderem se controlar, mesmo a raiva não é desculpável neles. Aqueles que deixaram o lar e praticam o Caminho do não desejo nunca devem permitir que a raiva surja, assim como o trovão e o raio não ocorrem num céu suave e claro.

Oh, Monges! Lembrem-se de suas cabeças raspadas.

Vocês já abandonaram a ornamentação, usam roupas simples e praticam a mendicância. Vejam-se assim: se o orgulho surgir, vocês devem extingui-lo rapidamente. Cultivar o orgulho não é apropriado mesmo para aqueles vivendo na vida comum, quanto mais para aqueles que deixaram seus lares para entrar no Caminho, aqueles que controlam seu corpo e praticam o esmolar para obter a libertação.

Oh, Monges! Uma mente desonesta é incompatível com o Caminho.

Por esta razão vocês devem cultivar honestidade. Vocês devem saber que desonestidade só produz enganos. Alguém que entrou o Caminho, logo, que não vive neste plano. É por isso, Monges, que vocês devem ter a mente correta e agir baseados na honestidade.

Oh, Monges! Vocês devem saber que uma pessoa de muitos desejos, procurando grandiosidade apenas para si mesmo, também sofre muito.

A pessoa de poucos desejos, nem procurando e nem desejando nada, não tem este pesar, esta é a simples razão pela qual vocês devem praticar o mínimo de desejos. Mais do que isso: devem praticar poucos desejos porque é a fonte de todos os bons méritos. Uma pessoa de poucos desejos não manipula a mente dos outros através da desonestidade, nem é levado pelos seis órgãos dos sentidos. A mente daqueles que praticam poucos desejos é tranquila e não tem preocupações. Seja o que tiver é suficiente, nunca há insuficiência. Para aqueles que tem poucos desejos, o Nirvana existe. Esta é a prática de poucos desejos.

Oh, Monges! Se vocês querem se libertar de todo o sofrimento, vocês devem conhecer o contentamento.

O estado de contentamento é a condição de prosperidade e bem estar. Aquele que está contente fica feliz mesmo quando tem apenas a terra para se deitar sobre ela. Aquele que não fica contente, está insatisfeito mesmo em palácios celestiais. Quem não conhece o contentamento é pobre, apesar de todas as riquezas que possa ter. Alguém que é contente é rico, não importando quão pobre possa ser. Quem não conhece o contentamento é sempre arrastado por desejos provocados pelos seis sentidos e deve ser apiedado por quem é contente. Esta é a prática do contentamento.

Oh, Monges! Se vocês procuram pela benção da tranquilidade irremovível, vocês devem abandonar o tumulto da sociedade e viverem a sós em um retiro quieto.


Aqueles que vivem em solidão, são honrados por Indra e por todos os deuses. Por isso vocês devem deixar tanto as suas como as outras comunidades e viverem a sós em locais remotos, com a intenção de extinguir a origem do sofrimento. Aqueles que gostam de companhia, recebem os sofrimentos de estar em companhia, assim como: quando um bando de pássaros de junta para viver em uma árvore, ela corre o risco de murchar. Se estiverem apegados ao mundo, irão afundar no sofrimento comum, assim como um velho elefante se afoga na areia movediça e dali não consegue sair. Tal é a prática do isolamento.

Oh, Monges! Se vocês diligentemente praticarem o esforço correto, nada será difícil.

Por isso vocês devem diligentemente praticar o esforço correto, assim como o constante gotejar da água fura uma rocha. Se a mente do praticante for inclinada à indolência, será como alguém que esfrega a madeira para iniciar o fogo e descansa antes da madeira ficar quente. Mesmo que esta pessoa queira o fogo, a faísca não acontece. Tal é a prática do esforço correto.

Oh, Monges! Não percam a atenção quando procurarem por um mestre ou por um amigo.

Se vocês não perderem a atenção, as paixões não poderão entrar. Por isso, Monges, sempre mantenham a atenção. Se perderem a atenção, perderão todo o mérito. Se o poder de sua atenção for forte, você não poderá ser ferido pelos desejos provocados pelos sentidos, mesmo que surjam. Da mesma maneira que, se entrar numa batalha usando uma armadura, não terá o que temer. Esta é a prática de não perder a atenção.

Oh, Monges! Se unificarem suas mentes, sua mente estará concentrada.

Quando a mente estiver concentrada, vocês poderão compreender as marcas do surgir e do extinguir de todas as coisas no mundo. Por isso, Monges, vocês devem sempre e diligentemente praticar a concentração. Se obtiverem concentração, sua mente não ficará dispersa. Assim como numa casa, que para se conservar água mantém-se as barragens em bom estado, o praticante; para o bem da água da sabedoria, deve concentrar-se em meditação e não permitir que esta vaze. Tal é a prática da concentração.

Oh, Monges! Se vocês tiverem sabedoria não terão ganância.

Sempre se questionem e não permitam que a sabedoria se perca. Então, através dos Meus ensinamentos vocês poderão se libertar. Se assim não o fizerem não serão considerados seguidores do Caminho, nem mesmo leigos serão. Em verdade, a sabedoria é um navio forte que os leva através do oceano da velhice, doença e morte. Repito, é uma grande lâmpada iluminando a escuridão da ignorância. É um remédio maravilhoso para todas as doenças. É um machado afiado que corta a árvore das paixões. Por isso, Monges, através do ouvir, do pensar e do praticar, vocês devem aumentar sempre a sabedoria. Se vocês possuírem o brilho da sabedoria poderão ver claramente, mesmo com seus olhos de carne. Tal é a sabedoria.

Oh, Monges! Se vocês se engajarem de forma leviana em conversas inúteis suas mentes ficarão confusas.

Mesmo que tenham abandonado sua casa, não poderão obter a libertação. Por isso, Monges, devem imediatamente abandonar pensamentos confusos e conversas desnecessárias. Se quiserem obter a benção de Nirvana, vocês devem apenas extinguir o mal de falar à toa. Tal é a prática de evitar a fala fútil.

Oh, Monges! De todas atividades meritórias vocês devem, de todo coração, concentrarem-se em afastar qualquer forma de indulgência pessoal, assim como vocês evitariam um ladrão.

O benéfico Ensinamento de Grande Compaixão do Mais Honrado se completou.

Monges, vocês devem se esforçar diligentemente na prática do Ensinamento. Tanto se viverem nas montanhas ou à beira d'água, sob uma árvore num local remoto ou num aposento sossegado, coloquem sua atenção no Ensinamento, com esforço correto. Se morrerem em vão, sem terem feito nada, vocês se arrependerão no futuro. Sou como um bom médico que, reconhecendo uma doença, prescreve a receita apropriada. Se o remédio é tomado ou não, já não é de responsabilidade do médico. Novamente digo: sou como um bom guia que mostra às pessoas o melhor caminho. Se elas não o seguirem, sabendo de sua existência, não é culpa do guia.


Oh, Monges! Se tiverem qualquer dúvida sobre as Quatro Nobres Verdades, perguntem imediatamente. Não guardem as dúvidas sem procurarem resolvê-las.

Por três vezes, o mais Honrado, exortou os Monges dessa forma. Mas ninguém na assembléia falou, pois ninguém tinha dúvidas.

Nesse momento Anuruddha, percebendo a mente dos que estavam ali reunidos, disse a Buda:

- Honrado do Mundo! Todos estes Monges tem certeza e não tem dúvidas em relação as Quatro Nobres Verdades. Se, nesta assembleia, houver alguém que ainda não completou sua tarefa ao ver a passagem de Buda, eles se lamentarão. Mesmo aqueles que apenas agora penetraram o Ensinamento, obterão o despertar ao ouvir as palavras de Buda. Assim como na escuridão da noite, um raio ilumina a estrada. Se houver aqueles que já tenham cumprido suas tarefas e cruzado o mar de sofrimento, eles terão apenas este pensamento: Quão rápida é a passagem do Mais Honrado do Mundo!

Quando Anuruddha falou estas palavras, todos na assembléia claramente compreenderam o significado das Quatro Nobres Verdades. Mas o Honrado do Mundo, movido por sua infinita Compaixão, querendo que todos na grande assembléia se tornassem mais fortes, ainda falou assim:

Oh, Monges! Não se lamentem. Mesmo que Eu vivesse no mundo, tanto quanto um kalpa, nosso estar juntos um dia acabaria. Não existe encontro sem despedida.

O Ensinamento que beneficia tanto a si próprio como aos outros, se completou. Mesmo que eu vivesse mais, não haveria nada a adicionar ao Ensinamento. Aqueles que não foram despertados possuem condições para obter o despertar. Se todos os Meus discípulos, de geração em geração, a partir de agora, praticarem o Ensinamento, o Corpo do Dharma do Tathagata existirá para sempre e nunca será destruído. Logo, saibam que tudo no mundo é impermanente: o que se junta inevitavelmente se separa. Não se preocupem, pois esta é a natureza da vida. Diligentemente, pratiquem com esforço correto e procurem a libertação imediatamente. Com a luz da sabedoria, destruam a escuridão da ignorância. Nada é seguro. Tudo nessa vida é precário.

Agora obtenho o Parinirvana. É como se livrar de uma doença maléfica. Esta coisa que descartamos e que chamamos de corpo, está afogado no mar do nascimento, velhice, doença e morte. Como poderia haver alguma pessoa sábia que não se alegrasse em se desfazer disso?

Oh, Monges! Vocês devem sempre, de todo o coração, procurar o Caminho da Libertação.

Todas as coisas no mundo, tanto as que se movem como as que não se movem, são caracterizadas por instabilidade e desaparecimento.

Parem, agora!

Não falem!

O tempo passa.

Atravesso.

Este é o Meu Ensinamento final.


Tradução do japonês para o inglês de Kazuaki Tanashi e Jonathan Condit – São Francisco, EUA, Maio de 1980.
Tradução do inglês para o português de Monja Coen – São Paulo, Brasil, fevereiro de 2002. 






A Psicologia Budista

O físico Fritjof Capra, em seu livro O Tao da Física, nos fala que o budismo - ao contrário do hinduísmo que lhe serviu de preparação e que possui um forte colorido mitológico e ritualístico - tem um caráter e um “sabor” eminentemente psicológicos. Segundo Capra, “Buda não estava interessado em satisfazer a curiosidade humana acerca da origem do mundo, da natureza do Divino ou questões desse gênero. Ele estava preocupado exclusivamente com a situação humana, com o sofrimento e frustrações dos seres humanos. Sua doutrina, portanto, não era metafísica; era uma psicoterapia. Buda indicava a origem das frustrações humanas e a forma de superá-las. Para isso, empregou os conceitos indianos tradicionais de maya, karma, nirvana, etc., atribuindo-lhes uma interpretação psicológica renovada, dinâmica e diretamente pertinente.” (Capra, 1986, p. 77). Ele havia dedicado-se a um aspecto da evolução humana: a autocompreensão para por fim ao sofrimento humano, e só a este aspecto se dedicara.

A questão da CAUSALIDADE em Buda, assim como em Freud, na psicologia ocidental, é um dos elementos principais de seus ensinamentos. Esta é chamada de karma, que significa ação, e representa a lei universal de causa e efeito em que o resultado de uma ação mais cedo ou mais tarde acaba por retornar a quem a praticou. Jesus certamente se refere à mesma lei universal quando fala: “Colherás aquilo que semeares”. De acordo com o budismo, qualquer situação em que possamos nos encontrar em dado momento é a resultante de toda a nossa história pregressa, em cuja corrente histórica nos lançamos até atingir o estado atual; isto quer dizer que dispomos constantemente da oportunidade de aprender as lições para enriquecer nosso crescimento e evolução espiritual. Corretamente entendida, a doutrina do karma não é, como supõem alguns, uma forma de evitar uma ação responsável, nem uma desculpa para a aceitação das coisas tais como estão, mas um incentivo para aproveitar o presente da forma mais criativa e positiva possível; toda experiência vivencial se converte em um empurrão para diante na nossa jornada para a compreensão de nós mesmos.


O que hoje somos deve-se aos nossos pensamentos de ontem que condicionaram nosso comportamento, e são os nossos atuais pensamentos que constroem a nossa vida de amanhã; a nossa vida é a criação de nossa mente. Se um homem fala ou atua com a mente impura, o sofrimento lhe seguirá da mesma forma que a roda do carro segue ao animal que o arrasta”.
(Buda)